Arquidiocese de Braga -

30 abril 2016

Sexto Domingo de Páscoa (Ano C)

Fotografia Jenny Sturm

Carlos Nuno Salgado Vaz

Domingo da expansão missionária.

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Já então, o acolhimento dos pagãos como discípulos de Jesus, o Senhor, causava problemas na Igreja nascente, pois os imbuídos de um judaísmo fechado, exigiam que os pagãos que aderiam à fé em Cristo se submetessem aos ritos e costumes judaicos.

O problema foi resolvido com a ida de Paulo e Barnabé a Jerusalém e com a decisão dos apóstolos de enviar representantes seus a acompanhar Paulo e Barnabé para dizerem à comunidade cristã de Antioquia como deviam atuar em relação aos novos aderentes à fé cristã.

E acontece algo de singular: a comunidade de Jerusalém tem a consciência de que o que decide não é opinião meramente humana, mas uma indicação que vinha da presença do Espírito Santo, presente na comunidade: «O Espírito Santo e nós próprios resolvemos não vos impor outras obrigações, além das que são indispensáveis».

É portanto o Espírito Santo que guia a comunidade dos crentes. É ele o Defensor, o Consolador e o Intérprete, aquele que traduz Deus para nós e nós para Deus, fonte e ponte permanente de comunicação, compreensão e comunhão.

Acrescenta Dom António Couto: «O Espírito Santo é assim o grande construtor de pontes entre nós, uns com os outros e com Deus. É por isso que Ele é o amor que destrói todos os muros, preconceitos, ódios, divisões, incompreensões».

O papel absolutamente decisivo do Espírito Santo na vida da Igreja fica ainda mais manifesto quando olhamos para o texto do evangelho deste domingo com olhos de ver.

No versículo que precede a primeira frase que escutamos: «Se alguém me ama, guardará a minha palavra», está a pergunta de Judas Tadeu: «Porque te hás de manifestar a nós e não ao mundo?». 

Parece que, embora tenhamos fé em Jesus, continuamos incapazes de assumir as consequências do nosso crer, do nosso aderir a Ele, e como que nos perguntamos: porque escolheu a humildade, o que é pequeno, um estilo de vida obscuro? Porque não procurou o consenso, servindo-se dos meios à sua disposição para obter sucesso? É uma ótica parecida à dos familiares de Jesus, que queriam que se manifestasse ao mundo obrigando-os a crer nele mediante a evidência do extraordinário. Escreve São João (7, 4): «ninguém faz nada às escondidas, se pretende tornar-se conhecido. Se fazes coisas destas, mostra-te ao mundo».

Relação pessoal de amor

A resposta de Jesus é no sentido de que o que verdadeiramente conta não é a extensão do consenso, não é o grande número dos 'conquistados'. Não. O importante é que exista uma relação pessoal de amor para com Jesus, e não a admiração que se pode ter para com um taumaturgo, um realizador de milagres. Não. O importante está em guardar a sua palavra. O decisivo é a relação de conhecimento e amor entre o crente, tornado discípulo, e Jesus, o Senhor e Mestre.

No tempo que medeia entre a morte-ressurreição e a vinda no fim dos tempos, Jesus vive quotidianamente no coração de quem ama, de quem vive o mandamento novo.

E para que isto aconteça, durante a sua ausência física, há por parte do Pai um grande dom: o Espírito Santo, o que tem as funções de consolador, defensor. É Ele que recorda tudo aquilo que Jesus fez e disse, tornando-o presente na sua comunidade e exercitando a função de 'Mestre interior' – como o chama santo Agostinho – capaz de iluminar e guiar a vida de cada cristão. Será Ele que tornará o cristão capaz de realizar as palavras de Jesus.

O cristão é templo de Deus

O cristão nunca está sozinho. Graças ao Espírito Santo, o cristão é morada, casa, templo de Deus, como o diz Paulo aos Coríntios (3, 16; 6, 19). Mais ainda: é o Espírito Santo que torna possível esta inabitação do Pai e do Filho no coração do crente. É ele nos torna capazes de saborear o dom deixado por Jesus: 'a sua paz', isto é, a vida plena por ele vivida, a verdadeira vida. E assim, aquela que era a paz de Jesus, torna-se agora a nossa paz (Enzo Bianchi).

Quando abro a porta do meu coração ao homem meu irmão, com ele entra Deus em mim. Se lhe nego a entrada, é Deus que fica fora. O Pai, o Filho e o Espírito estabelecem a sua morada no coração daquele que acolhe o outro fraternalmente; estabelecem a sua morada na família, no grupo, na comunidade que ama.

Assim o confessava um crente, prisioneiro nos campos de concentração: «Procurava o meu Deus, e Ele desaparecia; procurava a minha alma, e não era possível encontrá-la; procurei o meu irmão e encontrei as três coisas». Só quem hospeda cordialmente o próximo que encontra no caminho da vida, hospedará e reconhecerá o Senhor.

A raiz do nosso proceder é traçada pelo Evangelho através das palavras e gestos de Jesus. O amor que se concretiza em dar vida, dar de comer, curar, perdoar, abraçar, servir os últimos. É a tarefa que incarnam maravilhosamente as mães, neste dia em que especialmente as queremos recordar e confiar ao coração maternal de Maria, cujo mês também iniciamos.