Arquidiocese de Braga -

20 janeiro 2020

Escutismo: movimento juvenil dentro da Igreja

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Vila Nova de Famalicão

O Amor de Deus é para ser acolhido, acarinhado e deixar que nesse encontro todo amoroso e pleno de misericórdia, nos refaçamos como filhos que querem dar gosto ao Pai.

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Mais do que chamar ao escutismo um movimento, eu olho-o como um organismo que procura colocar jovens em movimento. Não um movimento aleatório, mas um caminho de crescimento. Há movimentos que nos colocam a rodar em círculo, seja em torno de si mesmos, seja em torno de um ídolo. E há movimentos de quem sabe onde está e se predispõe a fazer caminho. Talvez começando por territórios que outros já conquistaram, para depois rasgarem os próprios caminhos.

Se estamos a falar de um movimento de jovens, com jovens e para jovens, precisamos saber para onde nos estamos a dirigir, qual o nosso ritmo, os nossos ritos, a sinalização que nos orientam. Isto tanto na vida como na fé.

O medo é o pior inimigo de alguém que quer caminhar e crescer. O pior inimigo da fé não é a falta dela, mas o medo. Medo de mudar, medo de conhecer, medo de arriscar, medo de Deus. S. Paulo diz-nos que nós fomos libertados do medo, das amarras da lei, para a liberdade dos filhos de Deus. E ninguém é mais filho de Deus que ninguém, nem Deus gosta mais de uns do que de outros, nem o amor de Deus é para alpinistas, isto é, não é para se conquistar Deus para o nosso lado, e muitas vezes contra o lado dos outros. O Amor de Deus é para ser acolhido, acarinhado e deixar que nesse encontro todo amoroso e pleno de misericórdia, nos refaçamos como filhos que querem dar gosto ao Pai.

Se o escutismo é um movimento juvenil, ele tem também a marca da Igreja. Mas os jovens terão de se limitar a percorrer o caminho que já tem séculos de existência e que começou a ser construído num determinado contexto social, religioso e cultural muito específico, com os conhecimentos possíveis na altura?

Está na moda falar de inovação e renovação na Igreja. Pergunto: há limites para essa inovação? Até onde se pode ir na criatividade? Não será que estamos a correr o risco de apenas utilizar tais vocábulos para dar a sensação de mudança, mas tudo fica como era antes, apenas retocando a maquilhagem? Não estaremos a fazer da Igreja mais um museu com peças do passado, que uma casa comum, onde a Palavra de Deus é viva, eficaz e atual? Mas como pode ser viva, e por consequência dinâmica, e actual, se continuam a ser utilizadas palavras, ritos, ritmos e símbolos que, embora tenham tido a sua eficácia no seu tempo, hoje já não dizem nada e não são compreensíveis para a cultura moderna?

Cada secção tem os seus patronos e modelos de vida. Mas não estamos apresentar pessoas a imitar, mas vidas capazes de inspirar. Não para ficarmos prisioneiros do passado, como se de âncoras de tratassem. Raízes não são âncoras que nos prendem a outros tempos. “São um ponto de arraigamento que nos permite crescer e responder aos novos desafios”.

Talvez tenhamos marginalizado o Evangelho, que não se reduz a quatro livros, em troca de doutrinas abstratas, e nos esquecemos de quem é o Evangelho, uma pessoa, Jesus de Nazaré, o Jesus histórico que parece ter desaparecido ao afirmar-se exclusivamente a presença do Jesus glorificado. A Deus ninguém o viu, já diz S. João no seu prólogo. Então, não podemos atribuir a Jesus os atributos que julgamos ser divinos, e normalmente contrários ao humano. Para conhecermos Deus, precisamos olhar para a vida, mensagem e atuação daquele nazareno, Jesus, filho de Maria e de José.

Depois das questões levantadas, umas citações do Papa Francisco, retiradas da Exortação Apostólica pós-Sinodal Christus Vivit (Cristo Vive), para ajudar a alinhavar possíveis respostas.

1    CRISTO VIVE: é Ele a nossa esperança e a mais bela juventude deste mundo! Tudo o que toca torna-se jovem, fica novo, enche-se de vida. Por isso as primeiras palavras, que quero dirigir a cada jovem cristão, são estas: Ele vive e quer-te vivo!

2    Está em ti, está contigo e jamais te deixa. Por mais que te possas afastar, junto de ti está o Ressuscitado, que te chama e espera por ti para recomeçar. Quando te sentires envelhecido pela tristeza, os rancores, os medos, as dúvidas ou os fracassos, Jesus estará a teu lado para te devolver a força e a esperança.

35. Peçamos ao Senhor que liberte a Igreja daqueles que querem envelhecê-la, ancorá-la ao passado, travá-la, torná-la imóvel.

162. Lembro-te, porém, que não serás santo nem te realizarás copiando os outros. Quando se fala em imitar os santos, não significa copiar o seu modo de ser e de viver a santidade: «Há testemunhos que são úteis para nos estimular e motivar, mas não para procurarmos copiá-los, porque isso poderia até afastar-nos do caminho, único e específico, que o Senhor predispôs para nós”. Tens de descobrir quem és e desenvolver o teu modo pessoal de seres santo, independentemente daquilo que digam e pensem os outros. Fazeres-te santo é tornar-te mais plenamente tu próprio, aquele que Deus quis sonhar e criar, não uma fotocópia. A tua vida deve ser um estímulo profético que sirva de inspiração para os outros, que deixe uma marca neste mundo, aquela marca única que só tu poderás deixar.

23. Às vezes, por pretender uma pastoral juvenil asséptica, pura, caraterizada por ideias abstratas, afastada do mundo e preservada de toda a mancha, reduzimos o Evangelho a uma proposta insípida, incompreensível, distante, separada das culturas juvenis e adaptada só a uma elite juvenil cristã que se sente diferente, mas na verdade flutua num isolamento sem vida nem fecundidade. Assim, juntamente com as ervas daninhas que rejeitamos, arrancamos ou sufocamos milhares de rebentos que procuram crescer no meio das limitações.

233. Em vez de «sufocá-los com um conjunto de regras que dão uma imagem redutora e moralista do cristianismo, somos chamados a investir na sua audácia, educando-os para assumir as suas responsabilidades, certos de que também o erro, o falimento e a crise são experiências que podem revigorar a sua humanidade».

Fica o desafio para continuarem a leitura deste documento, sendo uma forma de preparar a Jornada Mundial da Juventude que irá acontecer no nosso país.


Núcleo CNE Vila Nova de Famalicão