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2 Mai 2020
Sábado da III Semana da Páscoa
Homilia no Paço Arquiepiscopal
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A Igreja cresceu no meio das perseguições. Não era fácil ser cristão naquela época. Só a fidelidade fez com que o cristianismo conseguisse impor-se ao furor dos judeus e às leis romanas. O primeira leitura de hoje fala do momento em que a Igreja gozava de paz e se consolidava, crescendo com todas as bênçãos do Espírito Santo. Pedro e os outros apóstolos iam percorrendo as comunidades para anunciar e realizar milagres. Tudo era oportunidade para verificar como os cristãos estavam a viver.

Em Jope aconteceu um pormenor muito elucidativo. Aí vivia uma senhora crente, chamada Tabita que tinha vivido a sua vida fazendo caridade, ajudando as viúvas, oferecendo túnicas e mantos a muitas pessoas. Faleceu e todos choraram a sua partida. Os cristãos intercederam e Pedro realizou o milagre de a trazer de novo à vida. Aqui confirmamos a existência de pessoas que testemunhavam uma vida de grande coerência com a nova doutrina que tinha sido anunciada há pouco tempo. Era a beleza de uma comunidade onde resplandeciam as virtudes e particularmente a caridade. Acontecia um testemunho eloquente que não deixava ninguém indiferente.

Hoje teremos de voltar a esta experiência áurea. Estamos num ambiente multicultural e multireligioso. Vamos chegar à conclusão de que não basta um cristianismo de tradição. O presente e o futuro estão a pedir-nos que mostremos as nossas convicções. Importa ser sem “ses” nem “mas”. Ou somos ou não somos. Mereceremos respeito, mesmo não concordando connosco, se nos afirmarmos pela coerência de vida.

Na carta pastoral “ Uma alma para o corpo da Igreja” procurei pedir aos cristãos este compromisso, dizendo que seria necessário desenvolver o espírito de vocação. Deus sai ao nosso encontro, como foi ao encontro de Abraão, de Moisés, de Samuel, de Jeremias, de Maria, de Saulo. Toma a iniciativa e espera uma resposta. Encontrou-a em muitos e hoje terá de encontrar a mesma disponibilidade da parte de quem deseja ser cristão. 

Teremos de estar abertos a uma descoberta vocacional que comprometa a vida toda. A vocação não diz respeito a alguns. Toda a vida cristã é vocacional e podemos dizer que há apenas um chamamento, único da parte de Deus, mas muitos caminhos para responder. Cada um encontra o seu e procura corresponder com dedicação e entrega. Todos somos vocacionados e a felicidade consiste em responder com alegria e radicalidade. Falta-nos muito esta consciência. Habituamo-nos a viver a vida cristã como um simples cumprimento de mandamentos. Sabíamos quais eram e seriamos bons cristãos se os cumpríssemos. Este modo de agir está a cansar-nos e precisamos de um espírito que nos envolva permanentemente na alegria de sermos amigos de Cristo e vivermos nas solicitações desse amor. Nada se repete. Há uma novidade impressionante e experimentamos como é belo ser cristão.

Nesta semana de oração pelas vocações, procuremos aproveitar para dar um sentido à vida. Estamos no primeiro sábado de Maio. Maria foi a mulher do “sim” dado em diversos momentos: na anunciação e no calvário. Em todas as circunstâncias, ela não hesitou. A sua vida foi diálogo contínuo com Deus e cantou as suas maravilhas por aquilo que Ele ia realizando. Uma vida cheia de uma resposta que se estendia aos pormenores da vida. Como ela, também nós teremos de redescobrir esta verdadeira identidade cristã.

Como podemos concretizar este modo de viver a vida cristã? A nota que referi conclui com uma síntese do viver cristão. Aí se fala das duas pontas de um ramo. Nós somos ramos na árvore da Igreja. Há uma ponta fixa que significa o nosso enxerto em Cristo e depois uma ponta móvel que nos situa nos diversos ambientes. À semelhança do ramo que possui uma ponta fixa e outra móvel, o discípulo de Jesus Cristo deve estar fortemente unido a Ele e inteiramente aberto aos desafios do mundo. A ponta solta significa ter a liberdade de se deixar conduzir pelo Espírito Santo na resposta a esses desafios. Como consequência, teremos de cuidar das duas pontas. Não podemos permitir uma vida desnutrida de espiritualidade nem acabar definhados por causa do imenso trabalho a realizar. As duas realidades são imprescindíveis e interdependentes. 

Os primeiros cristãos viviam felizes. Sabiam estar em Deus e caminhar na solicitude pelos outros. Havia uma grande harmonia. Não eram caminhos paralelos que se percorriam um de cada vez. Viver em Deus era estar com os irmãos e conviver com os irmãos era crescer na comunhão com Deus. Não teremos muito para aprender? Comecemos por ter a convicção de que Deus nos chama. Depois habituemos-nos a ir respondendo. Há um treino a fazer. Não tenhamos medo. Ousemos caminhar num modo novo de encarar a fé. Muitas novidades poderão surgir. Não fiquemos à porta do cristianismo. Redescobrindo a nossa vocação baptismal, alarguemos os horizontes e sejamos felizes em Cristo.

 

† Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz

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