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"Juntos no caminho de Páscoa"

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15 Abr 2020
Quarta-feira da Oitava da Páscoa
Homilia no Paço Arquiepiscopal
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Podemos ter chegado em diferentes navios. Mas hoje estamos todos no mesmo barco. Li este pensamento já não sei onde. Tem um significado muito especial. Podemos aplicá-lo ao tempo de pandemia que estamos a viver mas também ao concreto do que a vida encerra e, sobretudo, do que deve ser. A nossa vida é original e irrepetível. Não se confunde com nenhuma outra. Pode parecer parecida. Há sempre uma originalidade que nos identifica no bem e no mal. Chegamos todos a este porto da Páscoa. Agora, no mesmo barco, vamos encontrando, em comum, um sentido para a vida. Nunca poderemos ser navegadores solitários. Somos família e encaramos em comum as tempestades e vivemos com felicidade as alegrias.

Este tempo litúrgico que vivemos sublinha esta ideia. A Páscoa é o centro da vida cristã. Não a celebramos, como todas as outras festas, mesmo as grandes solenidades litúrgicas, num único dia. A Igreja primitiva mostrou com muita eloquência esta verdade. A Páscoa era celebrada durante cinquenta dias, como o grande dia que englobava a Ressurreição, a Ascensão e o Pentecostes. O tempo pós-pascal em que Jesus esteve nesta terra, aparecendo e convivendo com os apóstolos, assim como os dias de expectativa da vinda do Espírito Santo, foi como um único dia, vivido com o mesmo espírito de festa e de alegria. Cristo estava com eles. Hoje, este sentido da presença de Cristo que caminha com a Humanidade exige que nos libertemos do nosso individualismo, que permaneçamos na unidade e que, por fim, mostremos que Cristo está vivo e caminha connosco.

O evangelho que acabamos de ouvir pode trazer-nos muitas interpelações. Podemos ir caminhando pelas estradas da vida sozinhos, como os dois discípulos de Emaús. O desencanto acompanha-nos e a tristeza de ter perdido o amigo invadem os nossos sentimentos. Nada parece ter sentido depois de tudo o que aconteceu ou vai acontecendo. Poderá servir-se de textos da Sagrada Escritura ou deter-se na descrição dos acontecimentos. Se esta conversa for uma circunstância esporádica, tudo volta ao mesmo. Se Ele ficar connosco, nas noites da nossa vida, e se sentar à mesa das nossas preocupações, a luz voltará. Dar à vida um sentido pascal significa isto mesmo. Permitir que não caminhemos sozinhos e ter a responsabilidade para que alguém vá percorrendo o emaranhado das situações que poderiam deitar-nos por terra mas que há sempre um braço que ampara e um olhar para mais longe que aponta caminhos novos. As cruzes floridas não serão meros adornos. 

Quando a Páscoa entra na vida vai tornar-nos muito mais conscientes. Pedro e João subiram ao templo para a oração das três da tarde e repararam num coxo de nascença que todos os dias colocavam à porta do templo para pedir esmola. Também se lhes dirige. É sublime a resposta que Pedro dá. Nela podemos encontrar um apelo para compromissos com as situações de negação da Páscoa na vida das pessoas e nas situações da sociedade. “Não tenho nem ouro nem prata mas dou-te o que tenho: em nome de Jesus, o Nazareno, levanta-te e anda”.

A Igreja é aquilo que é. Há muita gente que pretende que resolva todos os problemas sociais. Mais do que nunca, reconhecemos as nossas limitações. Aceitamos, com humildade, de que não podemos fazer tudo quanto desejaríamos. Sabemos que houve um tempo em que a Igreja era a única a encontrar respostas para os males sociais. Hoje, existem muitas outras instâncias. Só que nós, os crentes, na nossa humildade, teremos de reconhecer que podemos e devemos fazer muito mais. 

Os tempos actuais já se revestem de uma certa gravidade social. O futuro vai ser muito mais complicado. A questão social será um problema de dimensões que não podemos descortinar. Se já existe muita pobreza, e com ela situações de fome, não podemos eludir-nos pensando que tudo será ultrapassado. É nestes tempos que a Igreja terá de fazer um apelo à criatividade caritativa e testemunhar uma solidariedade muito consistente. Não temos o ouro nem a prata suficientes para ultrapassar tantas carências. A fé em Cristo ressuscitado vai exigir que cresçamos na atenção aos outros e que revejamos as nossas instâncias de apoio social para lhes dar outro dinamismo. Algo de novo poderá ter de surgir. Também aqui a história nos está a dizer que a Igreja foi sempre perita em Humanidade. Também o terá de ser hoje com respostas sociais mais dinâmicas e interventivas. Não esperemos pelas situações para reagir. Comecemos a pensar para ser proactivos como sempre fomos. Cristo ressuscitado quer caminhar connosco e continuar a celebrar a alegria da ceia que os discípulos de Emaús sentiram.

 

† Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz

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