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21 Abr 2020
Terça-feira da II Semana da Páscoa
Homilia no Paço Arquiepiscopal
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O Tempo Pascal continua a estimular a nossa reflexão sobre a vida dos primeiros cristãos. Fizeram a experiência do ressuscitado e iniciaram uma vida original que a todos impressionava. Tinham um modo peculiar de encarar a vida que, por um lado, era igual à de todos mas, por outro, distinguia-se no conteúdo, tornando-se, muitas vezes, sinal de contradição, tal o testemunho que apresentavam. Era um testemunho individual mas sempre inseridos na comunidade.

Aproveitemos, por isso, o que a liturgia nos vai propondo ao apresentar a primeira comunidade de Jerusalém. Jesus tinha dado uma doutrina muito clara. Os Apóstolos foram concretizando-a responsavelmente nesta cidade onde Cristo morreu e ressuscitou. A Igreja nasceu aí e com uma originalidade muito grande em relação a tantos grupos religiosos que existiam na época.

Hoje teremos de ter presente esta referência, nunca esquecendo que há muito para aprender e mudar. A Igreja não é uma simples associação, onde os fieis têm direitos e obrigações e todos trabalham para atingir um objectivo. Não é uma ONG com propostas sociais interessantes e motivadoras de iniciativas. Ela, essencialmente, é a congregação daqueles que acreditam em Cristo. Primeiro cada um procura ser um discípulo seguidor de Cristo. Todos têm esta preocupação: seguir Cristo aqui e agora. Quando dois objectos são iguais a um terceiro, eles são iguais entre si. É uma lei da física. Sendo iguais a Cristo, somos iguais entre nós e concretizamos a unidade. Fazemos com que a Igreja seja união no Pai, no Filho e no Espírito Santo. A consequência é que vivemos entre nós um estilo de verdadeira comunidade.

A leitura dos Actos dos Apóstolos explicita as consequências desta união em Cristo. Os que tinham abraçado a fé tinham um só coração e uma só alma. A unidade interior era muito consistente. Nada era feito sem esta atitude que condicionava todo o agir. Como resultado, davam testemunho da ressurreição de Jesus com grande poder e gozavam da simpatia de todos. Nem todos concordavam com o seu modo de viver. Os Apóstolos continuaram a ser perseguidos, tal como Jesus tinha sido. Mas ninguém deixava de reconhecer que o Seu testemunho era eloquente e impressionante. Depois, porque eram um só coração e uma só alma, tinham tudo em comum e ninguém considerava seu o que lhe pertencia. Punham em comum, vendiam os bens e davam aos apóstolos para que estes distribuíssem a cada um conforme as suas necessidades.

Somos capazes de imaginar o que seria esta vida de comunhão efectiva e afectiva? Só procurando experimentar poderemos dizer que não só é possível actualizar este tipo de vida como é imperioso que o façamos. Pessoalmente já tive a graça de viver em comunidade vinte e quatro horas por dia e posso dizer que não é algo utópico. É um caminho com dimensões diferentes mas sempre com o mesmo modelo diante dos olhos. Temos de reforçar a nossa consciência comunitária. O vírus diz-nos que só juntos conseguiremos sobreviver. Mas a Igreja sempre foi inculcando esta doutrina. Basta que peguemos no Concílio Vaticano II para ver como a prática está muito longe da teoria. Só juntos  somos o que devemos ser e conseguiremos ultrapassar os desafios que nos são propostos. Ninguém pode ficar para trás, assim como ninguém pode isolar-se à frente. Este é um dos grandes problemas da Igreja. Mais uma vez repito com o Papa Francisco: “Estamos no mesmo barco”. A Igreja é isto e ninguém pode sentir-se dispensado de dar o seu contributo. Precisamos de reaprender o que significa vida em comum, confiança mútua, sentido de entrega do que temos e somos, partilha de bens materiais e espirituais, sentido de pertença. 

Quando dermos este testemunho de unidade e de comunhão, teremos o direito de falar de uma fraternidade universal e de uma solidariedade entre as todas nações. Estamos a reconhecer uma interdependência global e a falar de uma responsabilidade comum perante os destinos da Humanidade. Esperemos que este tempo de confinamento nos leve a reconhecer que existimos para ser um único corpo de irmãos. Procuremos não ir somente atrás das exigências deste tempo mas coloquemo-nos na primeira fila do testemunho do que poderá ser o mundo. Sejamos o que devemos ser e o mundo saberá reconhecer o que ensinamos.

 

† Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz

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