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13 Mai 2018
Queremos um jornalismo de paz e de verdade
Homilia no Dia Mundial da Comunicação Social
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  © António Silva | Congregados

À entrada de Ars-sur-Formans, aldeia francesa situada a poucos quilómetros da cidade de Lyon, e que ficou famosa pelo seu pároco, o S. Jean-Marie Vianney, conhecido por todos como o Cura d’Ars, percorrendo a estrada que tem por nome “Caminho do Encontro” deparamo-nos com um monumento a assinalar a chegada do recém-nomeado pároco em 1818 e um encontro com um pastorinho. No monumento vê-se o Cura d’Ars a dialogar com o pastorinho e a apontar para o Céu. Segundo a tradição, o jovem padre terá perguntado àquele rapaz o caminho para Ars. Depois de este o ter indicado, ter-lhe-á dito: “Tu mostraste-me o caminho para Ars e eu mostrar-te-ei o caminho para o Céu”. 

Recordo esta história porque ela não só concretiza com clareza o mandato que o Senhor nos confiou — “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura” — como o significado da Solenidade da Ascensão do Senhor que hoje celebramos. Como há momentos rezávamos, na Oração da Colecta, “a ascensão de Cristo é a festa da nossa esperança: chegando à nossa frente, à glória do céu, como nossa Cabeça, para aí nos atrai como membros do Seu Corpo”. Nas palavras do Papa Francisco, “Ele é como um chefe de grupo, quando se escala uma montanha, que chega ao cimo e nos puxa para junto de Si, conduzindo-nos para Deus”.

Contemplar o céu não significa esquecer a terra. Disso nos advertem os dois homens vestidos de branco que nos aparecem na primeira leitura, retirada do Livro dos Actos dos Apóstolos. O discípulo de Jesus caminha com os pés bem assentes na terra e com o coração no céu. A Ascensão promete a nossa participação na plenitude da vida com Deus, ao mesmo tempo que nos compromete na exigente missão do testemunho em nome de Cristo. É com esta consciência que leio a Mensagem do Papa Francisco para o 52ª Dia Mundial das Comunicações Sociais, cujo o tema é “«A verdade vos tornará livres» (Jo 8, 32). Fake news e jornalismo de paz”, num momento excepcional para a sociedade portuguesa. 

Pessoalmente considero que estamos assistir a uma necessária e há muito esperada mudança de capítulo na nossa jovem democracia, ou seja, a passagem de uma certa aceitação e normalização da corrupção, ainda que encapotada, a uma sociedade mais transparente, com maior responsabilidade ética, onde todos temos necessidade de prestar contas. Nos últimos dias temos assistido, nos meios de comunicação social, a um desfiar de histórias e teias de corrupção que chegam até nós graças ao empenho corajoso e dedicado de jornalistas na procura da verdade e de uma sociedade mais justa. Sem o jornalismo, e em particular o jornalismo de investigação, estas histórias não teriam chegado à esfera pública. Ficámos também a saber o alto preço que alguns jornalistas pagaram e pagam ainda hoje pelo exercício honrado da sua profissão. Sejamos claros: o jornalismo é necessário e um dos alicerces fundamentais numa sociedade democrática. Refiro-me ao jornalismo protagonizado pelo profissional que dignifica o código deontológico a que está sujeito. O jornalista que “não desempenha apenas uma profissão, mas uma verdadeira e própria missão” (Papa Francisco). Não se trata de um jornalismo “bonzinho, que negue a existência de problemas graves”, como afirma o Papa Francisco, na sua Mensagem. Trata-se sim de um “jornalismo sem fingimentos, hostil às falsidades, a slogans sensacionais e a declarações bombásticas; um jornalismo feito por pessoas para pessoas e considerado como serviço a todas as pessoas, especialmente àquelas — e no mundo, são a maioria — que não têm voz; um jornalismo que não se limite a queimar notícias, mas se comprometa na busca das causas reais dos conflitos, para favorecer a sua compreensão nas raízes e a sua superação através do aviamento de processos virtuosos; um jornalismo empenhado a indicar soluções alternativas à escalada do clamor e da violência verbal”. Um jornalismo comprometido com a verdade porque consciente de que a mentira mata a pessoa, mata a política, mata a democracia, mata a sociedade. 

Perante a responsabilidade de comunicar a verdade, não podemos, infelizmente, deixar de reconhecer que alguns profissionais não se batem pela transparência. Optam pelo facilitismo, escrevem sem critérios e de modo superficial. Deixam-se vender a interesses ideológicos e a grandes poderes económicos. Esta atitude reprovável exige, cada vez mais, do leitor um olhar crítico: capaz de ler as entrelinhas, cruzar fontes e identificar motivações ocultas. Só assim não seremos enganados por interesses mesquinhos e oportunistas. Pode ser oportuno, neste momento, a denúncia responsável de tantas notícias encomendadas por grupos de interesse e lógicas alheias à verdade. A ética e o bom senso obriga-nos a sermos sentinelas atentas, sentinelas que reconhecem a verdade do que é comunicado e apenas acolhem o que reproduz factos.

Olhemos, por isso, para os profissionais da comunicação. Agradeçamos a tantos jornalistas que trabalham pela procura da verdade e que enriquecem a cultura do povo. Criam um humanismo aberto aos valores e uma história que nos orgulha. Reconheçamos, também, que nem todos ousam estar ao serviço do bem e da verdade. Não os julgamos nem os condenamos. Mas não damos acolhimento aos interesses que os movem.

Não é fácil este discernimento sobre a verdade das notícias. Uma coisa é certa: são necessários jornalistas devidamente qualificados e conscientes da sua responsabilidade na construção do rumo da sociedade. “Informar é formar, é lidar com a vida das pessoas”, diz o Santo Padre. São muitos os que neste dia merecem o nosso reconhecimento. Por outro lado, neste complexo mundo da comunicação, importa apoiar cada vez mais o que a Igreja vai realizando com os meios que possui. Podem, aos olhos de muitos, até parecer insignificantes… mas, na verdade, são imprescindíveis ao bom propósito de edificar uma sociedade a partir dos princípios evangélicos. Expresso a minha gratidão a todos os jornalistas que operam nos meios de comunicação cristã.

Creio, por fim, ser chegado o momento de dar relevo às pequenas coisas, aos acontecimentos marginais do quotidiano. Refiro-me de modo particular à vida, eventos e experiências que têm lugar nas comunidades cristãs. Algumas são comunidades urbanas e outras rurais. Mas todas elas trabalham desinteressadamente pelo bem comum e tecem a história do nosso país longe dos grandes holofotes. Talvez sejam pequenas notícias, mas estou certo que funcionarão como a prefiguração das coisas grandes. Merecem circular!

Obrigado a todos os que operam na comunicação social. Espero que insistam na verdade e não se deixem aprisionar por interesses. Trabalhemos para, com humildade, entrarmos nestes circuitos e anunciarmos a verdade do mundo e a verdade do Evangelho. Esta é, sem dúvida, uma missão que nos une a todos. 

Caríssimos irmãos e irmãs:

Abrir vias de comunhão e de paz, por outras palavras, mostrar o caminho para o Céu, eis a missão sob a forma de oração que o Papa Francisco confia a todos nós, não só aos jornalistas, pedindo que rezemos assim: 

Senhor, fazei de nós instrumentos da vossa paz.
Fazei-nos reconhecer o mal que se insinua em uma comunicação que não cria comunhão.
Tornai-nos capazes de tirar o veneno dos nossos juízos.
Ajudai-nos a falar dos outros como de irmãos e irmãs.
Vós sois fiel e digno de confiança;
fazei que as nossas palavras sejam sementes de bem para o mundo:
onde houver rumor, fazei que pratiquemos a escuta;
onde houver confusão, fazei que inspiremos harmonia;
onde houver ambiguidade, fazei que levemos clareza;
onde houver exclusão, fazei que levemos partilha;
onde houver sensacionalismo, fazei que usemos sobriedade;
onde houver superficialidade, fazei que ponhamos interrogativos verdadeiros;
onde houver preconceitos, fazei que despertemos confiança;
onde houver agressividade, fazei que levemos respeito;
onde houver falsidade, fazei que levemos verdade.
Amen

† Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz

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