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18 Abr 2019
Lutar pela toalha
Homilia na Missa Crismal
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  © Avelino Lima | Sé Catedral

O Cardeal Sean O’Malley publicou, há poucas semanas, um livro com um título interpelativo e desafiante Procura-se: amigos e lavadores de pés. É o resultado das conferências do retiro que orientou aos bispos portugueses. Aconselho vivamente a sua leitura meditada. A dado momento, o cardeal O’Malley, referindo-se a Jesus, afirma: “Ele queria que os seus apóstolos, os seus amigos, parassem de disputar os primeiros lugares e começassem a lutar pela toalha”. Assumo estas palavras e deixo-as ficar a vós, presbitério de Braga, os meus amigos. 

Neste ano de particular significado para mim, quis oferecer-vos uma estola. Enquanto oferta, é gratuita, é dádiva, sem nada pretender em troca. Faço-o no seguimento das palavras do Cardeal O’Malley: que seja para vós um símbolo do serviço.

A estola não representa o clericalismo que nos diferencia, nos separa do mundo e que aponta para um certo poder divino. Pelo contrário, é imagem e testemunho para todas as comunidades, cristãs e civis, de um estilo cristão e sacerdotal de entrega incondicional da vida. Não reproduz, por isso, o funcionalismo de quem reserva algumas horas para o trabalho, nem sempre devidamente preparado e interiorizado, numa correria estonteante que, quando muito, se transforma em profissionalismo.

Sabemos que, como nos recordava o papa Bento XVI, a evangelização não se faz por proselitismo, mas por atracção. Neste sentido, o serviço é a única forma de poder saudável. Devemos lutar todos os dias pela toalha. Queremos que seja o símbolo de um sacerdócio que corresponde ao imenso amor de Deus e que oferece um amor desinteressado e gratuito a todos e a cada um.

Este modo sempre novo de viver o sacerdócio tem uma premissa que condiciona todo o agir pastoral. Importa trabalhar a santidade pessoal na vivência do ministério e não se deixar pautar por referências superficiais ou banais. Só as metas altas apaixonam e encantam. Renovo o apelo deixado na Carta Pastoral Uma alma para o Corpo da Igreja. Precisamos de uma santidade de corpo que nasce da fidelidade pessoal a Cristo e que se concretiza na renovação das nossas promessas sacerdotais.

Lutar pela toalha do testemunho e do serviço! Um esforço realizado em favor de toda a Humanidade mas, de harmonia com o nosso Programa Pastoral sobre a Esperança, com três destinatários preferenciais: os jovens, as famílias e os mais marginalizados. Nesta Semana Santa, tenho recorrido à simbologia das pedras. Pedras que podem originar quedas e tropeços, sejam elas grandes ou pequenas. Mas são, ao mesmo tempo, pedras que podem ser aproveitadas para a construção. Esta é a lógica da esperança cristã que anunciamos ao mundo contemporâneo. Acreditamos que é sempre possível passar da morte à vida, do desespero à esperança. Pergunto: somos pedras onde os irmãos no sacerdócio e os fiéis tropeçam ou somos construtores de comunidades vivas onde cada pedra, grande ou pequena, serve para a construção da Igreja e da sociedade?

1. Convido-vos a olharem para a proposta do Papa Francisco na recente Exortação Apostólica Pós-Sinodal Cristo Vive. Não gostaria que fosse lida com pressa. Precisa de ser meditada e escutada nos itinerários e percursos que propõe. A linguagem é simples e acessível e o conteúdo deveria operar uma revolução na nossa pastoral juvenil. O Papa manifestou o desejo de que se criem “espaços onde ressoe a voz dos jovens”. “São precisamente os jovens que podem ajudar a Igreja a manter-se jovem, a não cair na corrupção, a não se converter em seita, a ser mais pobre e testemunhal, a lutar pela justiça, a deixar-se interpelar com humildade. Eles podem conferir à Igreja a beleza da juventude” (nº 37).

Caros sacerdotes, mudemos o nosso comportamento para com os jovens. Não nos resignemos a fazer coisas para eles ou a esperar que executem o que delineamos. O Papa termina com um sonho: “A Igreja precisa do vosso entusiasmo, das vossas intuições, da vossa fé. Fazei-nos falta! E quando chegardes onde nós ainda não chegamos, tende paciência para esperar por nós”.

2. A toalha da nossa vida sacerdotal deve ainda ser usada no terreno das famílias. Ninguém ignora as campanhas presentes nas redes sociais e programas políticos que visam destruir esta célula da sociedade. Não podemos supor que o Evangelho está no coração das famílias. Não bastam esquemas tradicionalistas e eivados de moralismos incoerentes. O essencial da doutrina cristã permanecerá sempre imutável. Teremos de discernir, juntamente com as famílias, os processos adequados para propor o Evangelho. Se há área onde se impõe a sinodalidade, esta é uma delas. Só com as famílias, ouvindo os seus problemas e as suas intuições, conseguiremos compreender o que o Espírito Santo lhes quer dizer.

É chegada a hora de sair do nosso conforto e de ver tantas situações dolorosas que afectam as nossas famílias. Não julgamos nem condenamos! Caminhamos com todos, com gestos de compreensão e de acolhimento

3. Hoje tentam enganar-nos dizendo que vivemos numa sociedade sem problemas económicos. Ouvindo os nossos responsáveis, parece que a felicidade habita todas as casas. 

Um jornalista, que se diz não-crente, escreveu num semanário do sábado passado, ao procurar resposta para um pergunta simples: porque é que as pessoas não são hoje felizes? Porque, na sua opinião: 

a) O progresso destruiu a família. E numa família desfeita, é muito difícil ser feliz;

b) O progresso destruiu o contacto físico entre os seres humanos (que se relacionam hoje sobretudo através de máquinas). E sem esse “calor humano” as pessoas estiolam;

c) O progresso, sendo exclusivamente material, destruiu em boa medida a dimensão espiritual do ser humano. E o Homem espoliado dessa dimensão sente-se incompleto (cf. José António Saraiva).

As dificuldades em ter uma vida digna e honrar os compromissos devem inquietar-nos. São muitas as pedras que precisam de ser removidas para que a esperança aconteça. Devemos ser sentinelas! As torres das nossas igrejas deveriam ser antenas que detectam os gritos escondidos e as lágrimas derramadas. Façamos com que as nossas comunidades, através de grupos vocacionados para este serviço, sejam mesmo acolhedores. Se abrirmos os olhos e suscitarmos corresponsabilidade social, mostraremos a credibilidade que a Igreja teve no passado. O nosso estatuto é a toalha que limpa, onde e como for necessário.

Esta sensibilidade cristã não deve conhecer fronteiras. Celebramos um acordo de colaboração com a diocese de Pemba. Vimos Portugal, e muitos outros países e instituições do mundo inteiro, sensíveis à tragédia vivida em Moçambique. Receio que esta atenção termine quando a comunicação social deixar de transmitir notícias aterradoras. O amor da Arquidiocese de Braga deve, pelo contrário, permanecer. E permanecerá, desde logo, através da paróquia que “adoptamos” e que, para nós, é manifestação da fraternidade universal. Vamos dar vida à paróquia de Santa Cecília de Oca. Queremos construir a residência para sacerdotes e voluntários. Pretendemos construir uma escola com residência para irmãs religiosas que já aceitaram partir para viver com aquele povo. Apesar de os bens materiais serem importantes, isso não é suficiente. Precisamos, sobretudo, de sacerdotes e leigos voluntários que dêem um pouco do seu tempo para servir esta causa.

Caros sacerdotes, deixai a disputa pelos primeiros lugares e lutai pela toalha do serviço. Permiti que a beleza da caridade vos motive a experiências novas que testemunhem a vitalidade da nossa Arquidiocese. Escolhi, para a Semana Santa, a ideia das pedras no caminho. Caminho de Arquidiocese, dos sacerdotes, dos religiosos e religiosas, dos leigos empenhados, das comunidades, de todos e cada um. Não seremos capazes de realizar a alquimia divina de as transformar em pedras para uma Igreja renovada e uma sociedade mais humana?

Termino com uma prece da Exortação Apostólica Cristo vive.

“Peçamos ao Senhor que liberte a Igreja daqueles que querem envelhecê-la, ancorá-la ao passado, travá-la, torná-la imóvel. Peçamos também que a livre doutra tentação: acreditar que é jovem porque cede a tudo o que o mundo lhe oferece, acreditar que se renova porque esconde a sua mensagem e mimetiza-se com os outros. Não! É jovem quando é ela mesma, quando recebe a força sempre nova da Palavra de Deus, da Eucaristia, da presença de Cristo e da força do seu Espírito em cada dia. É jovem quando consegue voltar continuamente à sua fonte” (Cristo Vive, 35).

† Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz

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