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D. Jorge Ferreira da Costa Ortiga | 5 Dez 2006
Uma cidade atenta às periferias
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(Na Festa de S.Geraldo) Estamos a homenagear S. Geraldo, avivando a nossa memória histórica, recordando-o na vertente de restaurador e reorganizador desta Cidade e Arquidiocese de Braga. As vicissitudes da época colocaram o Arcebispo atento às coisas materiais e, em simultâneo, dedicado aos serviços eclesiásticos. A situação era de anarquia generalizada e impunha-se uma concentração de energias para, restituindo o prestígio doutras épocas, servir o povo num ambiente ainda rural mas que se tornaria, dentro em breve, muito dependente das cidades. Na verdade, a Idade Média construiu uma civilização urbana e as respostas, que a Igreja da época proporcionou, foram, em grande medida, a partir da cidade, tal como acontecera nos primórdios do cristianismo. Sabemos que a segunda metade do século passado voltou a centralizar-se na cidade, tornando o urbanismo uma “nova” realidade. As cidades cresceram em território e em habitantes. Surgiram novos espaços populacionais, com novos desafios à Igreja. Se os antepassados souberam criar meios de evangelização, hoje, seguindo S. Geraldo e tantos outros, teremos de potencializar os existentes e suscitar novas dinâmicas. O presente está nas cidades e o futuro depende delas. Deixando de lado múltiplas caracterizações sociológicas, sublinharei apenas a crescente fixação populacional nos aglomerados antigos que se expandiram e noutros que, talvez em dimensões mais reduzidas, adquiriram um estatuto de importância única para as entidades civis e religiosas. A Igreja, pela parte que lhe diz respeito, não pode desconsiderar o urbanismo mas terá de valorizar a cidade naquilo que ela é e significa. A cidade é um centro à volta do qual gravitam diversas periferias, não só geográficas e mas outras que poderíamos classificar de verdadeiras margens ou franjas sociais. A cidade tem uma força centrípeta, atraindo pessoas de todas as condições sociais, e, simultaneamente, centrífuga pela influência que, verdadeiramente, exerce. Prescindindo de outras análises, quero, na esteira dos Arcebispos que, como Senhores de Braga, foram servos das “margens” da sociedade, inspirando-me no milagre das frutas de S. Geraldo, quero, dizia, olhar para as novas pobrezas que inundam os nossos lares e as nossas ruas. Aumenta o número de mendigos, de sem-abrigo, de desempregados, de abandonados, de marginalizados, de habitações inadequadas, etc… De entre estas pessoas, umas nasceram cá, outras sentiram o apelo da cidade e vieram das nossas aldeias, doutros países pertencendo a várias etnias. Este não é um fenómeno exclusivo de Braga. Todas as cidades têm essa força centrípeta, sendo procuradas, muitas vezes na ilusão duma felicidade mais humana. A par desta “concentração” que constitui um desafio para a sociedade civil e para a Igreja, não podemos ignorar a força centrífuga que leva a sair dos perímetros urbanos e reparar na situação das periferias. A procura da cidade é motivada por muitas razões e existem propostas existenciais que influenciam negativamente as populações que nela residem ou que por ela passam ocasionalmente. Parece-me ser necessária uma reflexão sobre mundos escuros de moralidade desconcertante que alimentam lucros e interesses de pessoas de fora das cidades e semeiam a desorientação na vida das pessoas e das famílias. Será necessário enumerar algumas redes? Prefiro deixar a interrogação e solicitar a todos os habitantes das cidades que reparem no que acontece ao seu lado e que está a exercer uma influência pérfida no quotidiano de muita gente mas, particularmente, de populações jovens que demandam a cidade e partem com marcas que irão estruturar o seu futuro. Levantar estas questões, significa, para mim, interessar-me e comprometer-me na construção da cidade de Braga e de todos os outros centros urbanos da Arquidiocese. Reconhecem-se muitos problemas no quotidiano das nossas cidades. Se estamos comprometidos na “Família Solidária” sinto que a Igreja terá de chegar a estes espaços. Parece-me que o centro do poder – eclesiástico e civil – deverá expandir-se colocando-se ao serviço das periferias, sociais e morais, assumindo-se como intérprete e profeta dum verdadeiro bem comum. Trabalhamos para todos e com todos queremos construir uma cidade onde seja gratificante viver e conviver. Saibamos acolher e procuremos contribuir para elevar o nível humano, num empenho conjunto pela eliminação de certas situações indignas e inaceitáveis. Somos ungidos e enviados a “ anunciar a boa nova aos infelizes, a curar os corações atribulados, a proclamar a redenção aos cativos, a liberdade aos prisioneiros (…) a consolar todos os aflitos”, a trocar o “trajo de luto” pelo “óleo da alegria”(Is 61, 1-3 [1ª leitura]). Das pessoas devemos “ser servos por causa de Jesus” que não “desanimou” nem “falsificou a palavra de Deus”, conscientes de somos barro e é “em vasos de barro” que trazemos a missão que nos foi confiada resplandecendo assim no bem que fizermos a força de Deus (2Cor 4, 1-7 [2ª leitura]). O nosso trabalho é de administradores, fiéis, prudentes e vigilantes, de bens que não são nossos mas que foram confiados à nossa responsabilidade. Para uns pela escolha soberana do povo, para outros por eleição graciosa da Igreja. Num e noutro caso, não somos donos da casa mas simplesmente administradores ( Lc 12,35-44). S. Geraldo, fiel e diligente reorganizador da vida desta Arquidiocese com implicações no rosto desta urbe e dos seus habitantes, patrocine, com a sua intercessão e a sua herança cultural, os projectos de todos em vista do bem comum. Neste dia, quero expressar as minhas sinceras felicitações pelo caminho percorrido pelos responsáveis das nossas autarquias, câmara e juntas de freguesia. Que S. Geraldo nos faça compreender que nem tudo é progresso. A Igreja está convosco na construção duma cidade que seja centro de vida animador das periferias e digna herdeira de tantos ilustres antepassados que a ela devotaram as suas vidas. Sé Catedral, 5 de Dezembro de 2006 Jorge Ferreira da Costa Ortiga, Arcebispo Primaz
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