Arquidiocese de Braga -

7 maio 2016

O futuro está nas vossas mãos

Fotografia DM

Homilia na Bênção dos Finalistas da Universidade do Minho.

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Nestes últimos dias, o país e a cidade de Braga foram palco de dois acontecimentos de grande relevo. O primeiro, em Braga, foi a Semana da Economia e, de modo particular, o Fórum Económico.

Procurou-se discutir o Futuro da Economia Portuguesa e, para o efeito, foram convidados políticos,

gestores, economistas e figuras de relevo na área comercial e empreendedorismo. Deste fórum surgiram ideias e o sonho de fazer de Braga um espaço de reflexão e de inspiração para o resto do país.

Reconhecemos, com relativa facilidade, que vivemos tempos históricos de falência de um paradigma e de procura de um novo modo de viver. Ainda ontem o Papa Francisco, ao receber o prémio Carlos Magno, afirmou: “Sonho com uma Europa jovem, capaz de ainda ser mãe: uma mãe que tenha vida, porque respeita a vida e dá esperanças de vida. Sonho com uma Europa que cuida das crianças, que socorre como um irmão o pobre e quem chega à procura de acolhimento, porque já não tem nada e pede abrigo”.

Este é o paradigma: uma Europa capaz de integrar, dialogar e gerar. Uma Europa criativa, fraterna, livre e com um olhar centrado apenas no bem comum. Este é o sonho, mas, infelizmente, ainda não é a realidade. A realidade, essa, é a da submissão à ditadura da economia, do materialismo e da tecnologia. A ditadura do dinheiro mata! Mata porque é o dinheiro que ocupa o primeiro lugar e, neste sentido, cresce uma cultura do descarte. Todos os cidadãos “improdutivos” – idosos, crianças ou deficientes – não têm lugar segundo critérios de rentabilidade e de produtividade. Infelizmente, caros jovens universitários, – e é com pesar que o digo – nem para muitos jovens há espaço.

Onde está a disponibilidade para aceitar e formar jovens no início de uma carreira laboral? Onde estão as empresas que acolhem jovens com estágios e empregos estáveis, apesar da pouco experiência? Onde estão os incentivos do Estado em favor da empregabilidade e da autonomia familiar? Dizia com razão João Paulo II, já em 1980, que “impõe-se que nos convençamos da prioridade da ética sobre a técnica, do primado da pessoa sobre as coisas, da superioridade do espírito sobre a matéria”.

O segundo acontecimento, não menos importante, é a revisão dos apoios ao ensino particular e cooperativo. O Conselho Prebiteral da Arquidiocese de Braga já teve oportunidade de manifestar a sua preocupação e consternação sobre esta intenção do governo. Acreditamos que o ensino deve ser livre e que é um direito dos pais a possibilidade de escolher a melhor formação para os seus filhos. É um equívoco falar destas escolas como um ensino elitista e de luxo. Na verdade, muitos colégios particulares desenvolveram, ao longo de décadas, um autêntico serviço público onde nem sequer existiam escolas públicas. A questão, portanto, não se equaciona entre público ou privado, mas entre serviço de interesse público ou não e, ao mesmo tempo, entre liberdade de escolha e a imposição.

Esta preocupação traz-me de novo à memória a perplexidade do Papa Francisco ao reflectir sobre a Europa. Perguntou o Santo Padre: “Que te sucedeu, Europa humanista, paladina dos direitos humanos, da democracia e da liberdade? Que te sucedeu, Europa terra de poetas, filósofos, artistas, músicos, escritores? Que te sucedeu, Europa mãe de povos e nações, mãe de grandes homens e mulheres que souberam defender e dar a vida pela dignidade dos seus irmãos?”.

Quis partilhar convosco estes dois eventos. Qual a razão?

A vossa presença aqui, caros jovens universitários, é fonte de uma alegria imensa, em primeiro lugar para vós mesmos, mas também para os vossos pais, para toda a Academia da Universidade do Minho e, porque não dizê-lo, para a Igreja. Entre vós há cristãos… e este momento manifesta um acto público de agradecimento a Deus por uma bela etapa da vossa vida que agora termina.

Lutastes para crescer em sabedoria, passastes por sacrifícios, fortalecestes amizades e sonhastes um futuro. O futuro está agora nas vossas mãos. Sabei, contudo, que não estais sozinhos. Confiai-o a quem pode dar consistência. A segunda leitura dizia que Deus “ilumina os olhos do vosso coração para compreender a esperança”. Permiti-me que faça uma distinção entre optimismo e esperança. O optimismo é o esforço da nossa vontade para superar as dificuldades. Temos auto-estima, coragem, não nos deixamos abater e procuramos um novo horizonte. A esperança, por sua vez, não se alicerça no nosso esforço mas é depositada numa pessoa: Cristo.

Independentemente das circunstâncias, temos fundada esperança, temos a certeza, que Cristo nos acompanha e nos acompanhará sempre todos os dias. A esperança é, portanto, a presença contínua de Cristo na nossa vida. Mas podeis, do mesmo modo, ter a certeza que a Igreja vos acompanhará sempre.

Este é o momento de olhar para o futuro e de, agora, colocardes esta questão para vós mesmos: vamos acreditar na soberania da economia sobre o Homem? O que podeis fazer pelo nosso país, pelos vossos colegas, pela vossa família e por Deus? Quando muito recebemos, muito temos de retribuir. Só com gestos de compromisso se transforma paulatinamente a sociedade, gestos que derrubem os muros da inimizade, da inveja, da ganância e das ditaduras economicistas e desumanas.

É simplesmente um conselho aquele que vos dou. Reflecti! Pensai em grupo, dai as mãos, uni esforços e construí um amanhã diferente. É que o amanhã está mesmo à porta. O amanhã é já hoje e esse futuro e esse presente estão nas vossas mãos.

 

 

† Jorge Ortiga, ArcebispoPrimaz

 

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HML_09_2016.05.07_Braga_BencaoFinalistas.pdf