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12 Mai 2018
O futuro da sociedade nas vossas mãos
Homilia na cerimónia da bênção de finalistas
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  © DM | Avenida Central

Num dia tão significativo quanto este, gostaria de partilhar convosco aquilo que trago no meu coração e a minha vontade para este ano pastoral 2017/18.

Procurando estar atento à realidade confusa do tempo em que vivemos, decidi convocar toda a Arquidiocese de Braga para a espantosa tarefa de despertar a esperança. A esperança é uma palavra emblemática mas muito pouco compreendida. Sei que o término do vosso curso representa a esperança de prosseguir uma profissão que dignifique a vossa vida e crie condições para iniciar um novo projecto familiar. Importa, contudo, ir mais longe e reconhecer as verdadeiras exigências que a esperança desperta.

Conta-nos a história que Alexandre Magno, antes de partir em conquista da Ásia com o seu imponente exército, distribuiu pelos seus amigos tudo quanto possuía. Estava convencido que noutros lugares lhe seriam oferecidas as coisas necessárias à sua subsistência. Alguém lhe perguntou “Príncipe, e o que reserva para sua majestade?”. Ele respondeu simplesmente: “A esperança”. Bastou-lhe isto para ultrapassar todas as barreiras que lhe foram colocadas. O nosso povo afirma que a esperança é a última coisa a morrer, de modo que viver sem esperança é viver sem sentido.

O Papa Francisco é categórico e muito transparente ao dizer que “Deus não desilude! Colocou uma esperança nos vossos corações para fazê-la germinar e dar frutos”. Sim, é verdade. A esperança vem do alto e pede simplesmente o nosso acolhimento. Quando encontra em nós hospitalidade e abertura de espírito germina com expressões de diversa ordem.

Na leitura de S. Paulo aos Efésios, referia-se que existe uma única esperança, pois existe um só Deus que é Pai de todos. Mas esta esperança frutifica numa variedade grande de vocações ou profissões. Paulo falava de apóstolos, pastores e mestres. Hoje podemos falar da medicina, da engenharia, do direito, da informática, da teologia ou ainda das ciências sociais. São competências adquiridas ao longo de vários anos de estudo e sacrifício pessoal que devem ser orientadas para um projecto de renovação da sociedade. E neste projecto vós sois os principais actores da mudança.

Cada um é chamado a lançar sementes de esperança na vida pessoal, familiar, política, económica, assim como nos ambientes característicos e peculiares da justiça, da ética, da psicologia ou ainda da pedagogia. Mais do que nunca estes mundos esperam por intervenientes que se aproximem das realidades terrenas com um agir responsável. Não é fácil entender as mensagens que estes ambientes vão lançando. Prefere-se deixar correr ou permitir que as respostas sejam encontradas por minorias, muitas vezes eivadas de ideologias que fragmentam, que não respeitam as exigências de um humanismo integral. Não podemos ter medo das interpelações que a sociedade vai fazendo.

Alguém referia que temos de importar talentos e pessoas para resolver a problemática questão da demografia. Olhando para vós, digo com toda a convicção: temos aqui tantos talentos! É importante acreditar em vós e permitir que as vossas capacidades, a todos os níveis, melhorem o nosso país. Mas é também fundamental que não desiludais a sociedade. Ela espera muito de cada um de vós. Apontai para o alto e mostrai o Portugal que pode ser construído. É neste nosso e vosso país que deveis colocar os vossos talentos a render.

Importa olhar a realidade com pragmatismo e, se necessário, denunciar o mal que cresce e impede que a dignidade para todos os seres humanos seja um bem garantido. Não posso concordar com a passividade e a falta de intervenção social que atinge o nosso país. A história deve ser feita por todos e o contributo de cada um é imprescindível. Permitir que os outros construam a sociedade apenas desperta sentimentos de insatisfação generalizada e de tristeza amarga dentro do coração de tantos portugueses que poderiam ter um nível de vida melhor e lhes é negado todos os dias.

São muitos os cenários a impor e a recordar que a esperança é um dom mas também uma responsabilidade: milhares de seres humanos que vivem o flagelo da pobreza e da fome, pessoas que encurraladas no drama da guerra e sob o jugo irresponsável de ditadores. Testemunhamos cenários de terrorismo ou ainda a constante violação dos mais elementares direitos humanos. A esperança fragilizou-se em muitas pessoas e em diversas instâncias. Tornou-se um bem escasso. É necessário conquistá-la e não guardar para si o que deve ser um direito de todos. 

Onde se encontra a verdadeira esperança? Em finais do séc. XIX havia uma esperança ilimitada no potencial do progresso científico e tecnológico. No séc. XX, sobretudo com as duas Guerras Mundiais, rapidamente a Humanidade percebeu como isto era frágil e que os sonhos ruíam a qualquer momento. A engenharia humana tem vindo a abafar todas estas promessas. O progresso e a técnica são indispensáveis mas, na ausência da ética e da moral, dos valores do compromisso e respeito pela dignidade, tudo vai desmoronando. São eloquentes as palavras de Saramago: “a cegueira também é isso, viver num mundo no qual a esperança se acabou”. 

Caros jovens, o futuro da nação está nas vossas mãos. O ensino superior dotou-vos, é certo, com a melhor técnica e com os melhores instrumentos que vos permitirão transformar a realidade nas mais diversas áreas de actuação. Peço-vos, todavia, que vos doteis também com as ferramentas mais poderosas deste mundo: a compaixão pela Humanidade e os valores. Serão eles os vossos pilares mais seguros e aqueles que distinguirão a qualidade da vossa actuação. Quando somos movidos pela esperança, verdade e compaixão aumenta em nós, de modo exponencial, a criatividade necessária para transformar o mundo e atingirmos os nossos sonhos. Este é o tempo favorável para a mudança. Este é o vosso tempo! 

O projecto de uma sociedade mais humana e solidária está nas vossas mãos. Não desiludais. Investi no vosso bem pessoal mas também na sociedade e, se assim o quiserdes, a Igreja também deseja ser parceira na procura de valores perenes que garantam um futuro feliz para todos.

Sabei, ainda, que a Igreja estará sempre disponível para vos acolher e vos acompanhar naquilo que entenderdes necessário. Poderemos não ser os maiores especialistas na técnica, mas somos certamente especialistas em Humanidade e na escuta. Sabei, por fim, que Deus derrama agora a Sua bênção sobre vós e a Ele confio o vosso futuro. Obrigado!

† Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz

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