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19 Mai 2018
Gratidão e empenho
Homilia na comemoração dos 50 anos do CPM da Póvoa de Varzim
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No dia da São Geraldo, cinco de Dezembro, publiquei uma Carta Pastoral intitulada “Construir a Casa sobre a Rocha. Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os construtores”. Alguma comunicação social olhou apenas para alguns aspectos sem conseguir descortinar o verdadeiro intuito desta Carta à Arquidiocese. A tipologia de documento encerra, desde logo, uma intenção muito clara. Queria e quero abordar a pastoral familiar como algo de primordial importância. Algumas orientações pastorais foram delineadas. Em primeiro lugar, quem trabalha com as famílias deveria reconhecer que a vida a dois é um projecto aberto aos filhos e, sobretudo, que as famílias são os principais actores e construtores deste mesmo projecto. Em segundo lugar, não obstante as famílias serem as principais protagonistas, deverá existir sempre uma referência ao autor da Vida, ou seja, a Deus. Quando esta verdade não é tida em consideração, toda a construção realiza-se sobre areias movediças e à primeira intempérie tudo se desmorona.

É este o primeiro pensamento que ouso deixar nesta celebração. Desejo que ele transporte os cristãos para esta base inquestionável do lar cristão. Sem Deus tudo é muito frágil e desmorona-se com uma facilidade impressionante. Ousemos equacionar esta hierarquia de valores e aceitemos esta realidade que condiciona todos os outros trabalhos.

Em Deus, gostaria que esta eucaristia fosse de gratidão a quem iniciou os CPM aqui na Póvoa de Varzim. Não esqueço ninguém mas recordo de modo muito fraterno e eclesial o Sr. D. Joaquim Gonçalves. Não foi ele, é certo, o único impulsionador desta iniciativa, mas sem ele muita coisa não teria acontecido. Como homenagem a quem durante 50 anos tem vindo a corporizar estas experiências, rezo para que esta celebração gere na Arquidiocese de Braga uma verdadeira compreensão do que é importante e que o edifício da vida familiar não desmorone.

Na Carta Pastoral, a qual aconselho a leitura na íntegra, após sublinhar a importância para “educar para a alegria do amor na família”, realço a importância da preparação para o matrimónio. Sempre foi necessária mas hoje é mesmo imprescindível. Falamos muito de preparação. Tomemos um exemplo: nos mais variados âmbitos da vida humana e profissional exigem-se determinados cursos ou requisitos. Porém, aquilo que é mais importante para a felicidade das pessoas é, infelizmente, esquecido e negligenciado.

Quando os cursos de preparação para o matrimónio acontecem, sabemos que muitas vezes é por simples imposição. Muitas pessoas participam contrariadas e sem o cuidado em extrair orientações para a vida a dois. Urge criar uma atmosfera de não imposição e que valorize os benefícios para os noivos. Quando a família e a catequese – desde a infância – alertarem para a alegria de uma vocação matrimonial, assim como para a necessidade de aprender a viver em comunidade, a preparação será vista como um tesouro para todos. Ela é parte integrante de uma caminhada da vida.

Para que isto aconteça, torna-se necessário corporizar o que a Carta Pastoral refere: “É toda a comunidade cristã que é chamada a envolver-se mais profunda e amplamente na preparação dos noivos para o matrimónio”. Agradeço aos casais que, em toda a Arquidiocese, se comprometem e gastam tempo e energias para que os CPM funcionem com seriedade. Mas, na verdade, a comunidade deve constituir-se como verdadeiro suporte destes encontros matrimoniais. É a comunidade que procura modos de proporcionar tudo o que os seus membros necessitam. Muitas vezes é tão difícil encontrar casais que se disponibilizam para trabalhar. Se for a comunidade a responsabilizar-se e a criar este espírito de serviço, aparecerão casais em número suficiente e não andaremos sempre à procura.

Acontece, porém, que a competência só se adquire com perseverança e formação. Precisamos de casais que incorporem na sua vida matrimonial a missão de trabalhar pelos outros. Quantos casais se dedicam a esta tarefa durante anos e anos. Deus os compensará, na certeza de que deve ser a vivência da sua vocação a reconhecer a importância do seu trabalho para a Igreja, mas também para a realização do casal. Na verdade, nunca teremos uma pastoral familiar, na preparação, no acompanhamento de casais jovens ou em situação de dificuldade, se não tivermos casais que comuniquem, com a sua experiência, o realismo de viver a dois. A vida em casal conta sempre com problemas e dificuldades, mas, na consciência de um amor fiel e em união a Cristo, tudo se ultrapassa. Rezemos, também, para que o espírito de serviço na pastoral matrimonial não esmoreça e, pelo contrário, apaixone outros casais para a entrega generosa, talvez até sacrificada, neste sector da vida eclesial.

Permiti que, neste ambiente festivo, deixe ficar dois pedidos às comunidades paroquiais e cite três passagens da Carta para que ela atinja o quotidiano das comunidades e não fique apenas no arquivo dos documentos que são lidos no momento e depois passam ao esquecimento.

1. Em primeiro lugar, sublinho de novo a necessidade de uma nova vitalidade na preparação para o matrimónio. “A preparação mais imediata para o matrimónio deverá conhecer uma nova vitalidade. É verdade que muito se tem feito neste âmbito ao longo das últimas décadas. Mas, cada vez mais nos tempos actuais em que a vida ganha ritmos alucinantes, é necessário uma contínua avaliação e renovação para uma preparação que se vá sempre ajustando às necessidades de cada tempo. A vida familiar nunca foi fácil e um casamento saudável e feliz necessita de tempo e esforço para se edificar. Sabemos como são hoje os ritmos de vida acelerados, os empregos menos estáveis e que, tantas vezes, obrigam à separação dos cônjuges por períodos mais ou menos longos, a experiência dos noivos que não raro provêm de famílias desestruturadas, a mentalidade difundida de que a qualidade de vida corresponde à acumulação de bens materiais, a baixa taxa de natalidade com a correspondente ausência dos irmãos numa educação que se quer fraterna, a fragilidade da fidelidade aos compromissos assumidos para a vida. Estas características do nosso tempo obrigam-nos a questionar conteúdos e modos de preparar os noivos para o matrimónio e a encontrar, com criatividade e profundidade, os meios adequados para um acompanhamento apropriado que ajude, de facto, os noivos a iniciarem uma nova etapa de vida”.  

2. Não basta esta preparação próxima ou imediata. Precisamos de olhar mais longe.
“Este factor vem alertar para a necessidade de um empenho sério numa pastoral do namoro, em que todos, catequistas, líderes de grupos de jovens, promotores vocacionais e demais agentes pastorais unam esforços e trabalhem juntos de forma a mais cedo começar a preparação e o discernimento dos jovens para o namoro, noivado e matrimónio. Seria realmente importante que um novo dinamismo surgisse no sentido de se promoverem grupos de namorados, atividades e encontros que pudessem ajudar a refletir e a viver uma verdadeira preparação, mesmo que a médio-longo prazo, para a vida matrimonial”.

3. “Finalmente, deve-se sublinhar o carácter gradual e crescente do matrimónio. A celebração do matrimónio não é uma meta, mas um ponto de partida: que «os noivos não considerem o matrimónio como o fim do caminho, mas o assumam como uma vocação que os lança para diante, com a decisão firme e realista de atravessarem juntos todas as provações e momentos difíceis»” (AL 211).

Muitas outras perspectivas devem ser equacionadas. Como ficaria contente que a Amoris Laetitia fosse estudada em casal e em grupo. Não basta ler alguns parágrafos e limitar-se a aspectos circunstanciais. É necessário muito mais. Relembro, por isso, alguns compromisso que podem marcar este cinquentenário, aqui neste arciprestado mas também em toda a Arquidiocese.

– Nova vitalidade na preparação para o matrimónio;
– Pastoral do namoro;
– A celebração do matrimónio não é uma meta mas um ponto de partida.

Que Maria, esposa de José e mãe de Jesus, suscite em todas as comunidades uma pastoral devidamente organizada. Parabéns a quem trabalha no CPM ou na Pastoral Familiar. Trabalhemos mais a família para bem da Igreja e da sociedade. Continuemos, por fim, a construir a casa sobre a rocha partindo de uma espiritualidade conjugal na qual Cristo é o alicerce.

† Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz

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