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26 Mar 2020
Quinta-feira da IV Semana da Quaresma
Homilia no Paço Arquiepiscopal
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Este período de isolamento social é uma oportunidade para reaprendermos a estarmos uns com os outros. Todos necessitamos de parar quando iniciamos algo novo. Procuramos ler, confrontar ideias, aquilatar experiências e retirar as nossas conclusões. Nenhum atleta inicia uma competição sem treino e nenhum estudante encara um exame sem a preparação adequada. O Coronavírus caiu-nos em cima sem avisar e todos fomos obrigados a desenvolver novos hábitos e adquirir novas rotinas.

Algo de novo vai acontecer no futuro. Não somos capazes de imaginar o que teremos de mudar. Neste momento, necessitamos de olhar para quem tem alguma experiência e aprender através do que nos dizem. A Igreja dispõe de uma experiência que a maior parte das pessoas não conhece mas que proporciona muita alegria e felicidade. São pessoas que vivem encerradas numa casa ou, como se costuma dizer, atrás das grades. Falo das ordens contemplativas com muita história e que continuam a atrair pessoas para o silêncio e solidão comunitária. A sua vida, no fundo, está estruturada em dois pilares. Por um lado, praticam o silêncio e, por outro, a solidão. Só que o silêncio é um silêncio eloquente, intuído na voz de Deus que se revela na meditação e contemplação. Com o coração ouve-se muita coisa que o barulho não permite. É um tempo para ouvir. Um vazio interior para que alguém fale. E a solidão é uma solidão habitada, com a presença de Deus e dos irmãos na vivência de uma fraternidade que só uma verdadeira família entende.

Com este estilo de vida podemos aprender muito para encararmos esta quarentena. Não queremos chegar ao pânico e muito menos à depressão. As Carmelitas Descalças de Cadiz, em Espanha, escreveram um texto com dez conselhos. Elas vivem nas suas celas. Nós somos convidados a viver nas celas das nossas casas. Irei servir-me, em cada dia, de um desses conselhos. A minha partilha poderá ser muito teórica. Elas falam por experiência.

Começam por dizer que devemos ter uma atitude de liberdade. O mais importante é a atitude com que se vive, a interpretação pessoal que se faz da situação, a consciência de que não se trata de uma derrota. Paradoxalmente, esta pode ser uma oportunidade para descobrir a maior e a mais genuína liberdade: a liberdade interior que ninguém pode tirar e que procede da própria pessoa. Num contexto em que as autoridades “obrigam” a estar em casa, a liberdade consiste na adesão voluntária, sabendo que é por um bem superior. É livre aquele que tem a capacidade de assumir a situação porque quer fazer o correcto. Não se está encerrado em casa, antes, optou-se por nela permanecer “livremente”.

Nesta atitude de liberdade interior conseguimos colher muitas lições para a vida.

Seguindo este conselho das Irmãs Carmelitas, devemos, também nós, cultivar a liberdade interior que nos leva a dar valor ao que realmente vale. Como crentes, sabemos que Deus é a pérola que descobrimos e que decidimos comprar não permitindo que se perca. Ser cristão é escolher entre tantas coisas e ousar colocar de lado tantas outras a que os outros dão valor. Não nos podemos deixar condicionar por alternativas que nos vão sendo propostas. Há uma escolha e deveríamos ser capazes de dizer como S. Teresa: “Só Deus basta”. 

Na primeira leitura verificamos que Israel abandonou a Deus e levantou um altar a um bezerro de ouro. É fácil, também para nós, consciente ou inconscientemente, ir levando altares a bezerros que construímos. A Quaresma é esta oportunidade para revisitar a nossa vida e discernir se isto não nos está a acontecer, colocando no lugar de Deus tantas outras coisas de valor ridículo e insignificante, mas diante da qual vergamos a nossa cerviz. Depois, importa que a nossa opção por Deus se torne visível nas nossas obras. No Evangelho, Cristo diz-nos que as obras que eu realizo dão testemunho de que o Pai me enviou. Também mostramos exteriormente, nos comportamentos, o amor que temos a Deus.

Trabalhemos a nossa liberdade interior e enchamos o coração de Deus para mostrar por obras como Ele é o tesouro que escolhemos.

 

† Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz

 

Introdução

Estes dias de particular acalmia devem ser preenchidos pela vontade de aprofundar a fé e de conhecer a vida da Igreja. Sabemos que o Concílio Vaticano II, que continua a ser a nossa referência, porque ainda não está suficientemente realizado, apresentou uma imagem nova de Igreja que importa compreender na sua novidade. Tudo parte da verdade de ser Povo de Deus como prioridade em relação a outras coordenadas, para depois apresentar as diferentes vocações. Há uma realidade um pouco desconhecida, e por vezes desconsiderada, que é a vida consagrada. Tem uma grande história no passado e continua com uma enorme vitalidade à espera de ser descoberta. 

São carismas diversificados que enriquecem a Igreja e a sociedade com uma vida de fidelidade ao Evangelho e com um dinamismo pastoral muito consistente. Procuremos conhecer esta riqueza. Hoje, quero olhar para a vida contemplativa. Ao lado daqueles e daquelas que vivem activamente existem outras congregações que optam pelo silêncio, meditação e contemplação. Em Braga, temos cinco conventos. Demos graças a Deus pela sua vida e confiemo-lhes a hora que estamos a viver. 

Momento da paz

Todos nós procuramos a paz e por vezes não a encontramos. Os mosteiros de clausura, no meio das suas dificuldades e problemas, são, regra geral, locais de paz e de harmonia interior. A sua vida é feita de oração e silêncio. Crescem na caridade recíproca e testemunham a alegria de serem uma comunidade de fé, esperança e caridade. E estão a dizer-nos que a paz é possível. Louvemos o Senhor por esta experiência e, quando quisermos, aproximemo-nos. Há clausura mas não há isolamento. 

Têm momentos de oração aberta ao pública e recebem visitas para acolherem pedidos de oração. São uma rectaguarda que entusiasma quem quer viver para Deus. Neste momento façamos comunhão com elas e permitamos que aqueçam a nossa vida de piedade tantas vezes medíocre. Consagram-se à oração. Não poderão ser um modelo para que também nós, na azáfama da vida, conquistemos tempo para estarmos a sós com Deus. Rezam por nós mas não nos dispensam de rezar. São um estímulo para que tenhamos um programa de vida que contempla alguns momentos para estar com Deus.

Despedida

Quis colocar à nossa consideração e oração a vida consagrada. Os consagrados sentiram a vocação e reavivaram a sua consagração baptismal através dos votos de entrega a Deus. Também nós, pelo baptismo, fomos consagrados a Deus e, como cristãos, devemos desenvolver essa consagração no tecido das nossas ocupações. Somos consagrados a Deus. Ele tem algo a dizer-nos. Não formulamos votos, mas o baptismo exige uma vida que não permite confusão com o espírito do mundo. Nascemos no mundo e estamos no mundo mas não somos do mundo. Hoje convido-vos a reflectir um pouco sobre a diferença de vida que devemos mostrar no dia a dia. Infelizmente somos como todos os outros e não se nota a marca do discípulo que não necessita de rótulos mas deveria preservar um estilo inconfundível. Somos iguais aos outros ou nota-se alguma diferença? Somos cristão porque fomos batizados ou porque o somos nos comportamentos e atitudes?

Continuamos numa semana de particulares momentos de oração. Fizemos o time out e assumimos o compromisso de o fazer diariamente rezando o Pai-Nosso ao meio dia. Tivemos a consagração ao Coração Imaculado de Maria e ao Sagrado Coração de Jesus e amanhã, ao meio dia, onze horas em Portugal, teremos outro momento forte. Somos convidados a ligar-nos com o Santo Padre. “Desde já convido todos a participar espiritualmente através dos meios de comunicação. Ouviremos a Palavra de Deus, elevaremos a nossa súplica, adoraremos o Santíssimo Sacramento, com o qual no final darei a benção Urbi et Orbi, à cidade de Roma e ao mundo, à qual estará ligada a possibilidade de receber a indulgência plenária”. Queremos responder à pandemia com a universalidade da oração, da compaixão, da ternura. Permaneçamos unidos. Façamos sentir a nossa proximidade às pessoas mais sós e mais provadas.”

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