Arquidiocese de Braga -

1 abril 2022

Papa pede perdão a comunidades indígenas do Canadá

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DACS com Vatican News

Francisco falou de uma “colonização sem respeito” que provocou uma “tragédia” nas comunidades indígenas, separando famílias e desrespeitando identidades culturais ou valores espirituais.

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Papa pediu hoje “perdão” pelo envolvimento dos católicos na “colonização sem respeito” e na gestão de escolas residenciais para povos indígenas do Canadá, confessando “indignação e vergonha”.

“Pela deplorável conduta de alguns católicos, peço perdão a Deus. Quero dizer-vos de todo o coração: estou muito entristecido. Uno-me aos bispos canadianos, para pedir-vos perdão”, referiu Francisco, no final de uma semana de encontros com delegações da Assembleia das Primeiras Nações e das comunidades Métis e Inuit.

O Santo Padre falou de uma “colonização sem respeito” que provocou uma “tragédia” nas comunidades indígenas, separando famílias e desrespeitando identidades culturais ou valores espirituais, referindo que “tudo isto é contrário ao Evangelho de Jesus”.

Nesta semana, 32 anciãos indígenas, sobreviventes de escolas residenciais, assim como alguns jovens, deslocaram-se ao Vaticano para uma “viagem histórica”, marcada por vários encontros com o Papa Francisco, que agradeceu o testemunho dos representantes indígenas, que manifestaram o desejo de “caminhar em conjunto”, com a Igreja Católica. O Santo Padre elogiou a “sabedoria” da tradição indígena, com “grande amor pela família” e uma relação harmoniosa com a natureza.

“É arrepiante pensar na vontade de incutir um sentimento de inferioridade, de fazer alguém perder a sua identidade cultural, de truncar as raízes, com todas as consequências pessoais e sociais que isso implicou e continua a envolver: traumas não resolvidos, que se tornaram traumas intergeracionais”, declarou.

O Papa reafirmou a intenção de visitar o Canadá, em particular os territórios indígenas  – apontando à data da festa litúrgica da Santa Ana, avó de Jesus (24 de julho), antes de sublinhar, em tom de brincadeira, que não iria no inverno -, para poder manifestar melhor a sua “proximidade”, e insistiu na “vergonha” que sente perante o tratamento sofrido por membros destes povos da América do Norte, que lhe apresentaram as suas histórias.

Em 2021 foram descobertas mais de um milhar de sepulturas anónimas junto de antigas escolas residenciais indígenas, com 751 sepulturas anónimas a serem descobertas perto de uma única escola em Saskatchewan. Várias destas instituições pertenciam à rede de escolas administrada pela Igreja Católica e eram destinadas à “re-educação” de crianças indígenas, com o apoio do governo canadiano.

Nos séculos XIX e XX, até aos anos 1990, mais de 150 mil crianças indígenas passaram por este sistema de 139 instituições pelo Canadá. Em alguns casos, as crianças eram forçadas a ir para colégios internos para serem assimiladas pela sociedade caucasiana do país.

No final de Setembro de 2021, a Conferência Episcopal do Canadá publicou um “pedido inequívoco de desculpas” aos povos indígenas do território.

Os bispos canadianos reconheceram “os graves abusos cometidos por alguns membros” da comunidade católica, abusos estes “físicos, psicológicos, emocionais, espirituais, culturais e sexuais”, para além de reconhecer “com tristeza, o trauma histórico e contínuo, bem como o legado de sofrimento e os desafios que perduram até hoje para os povos indígenas”.

A Igreja Católica no Canadá admitiu que o sistema implementado nestes internatos, nos séculos XIX e XX, “levou à supressão das línguas, cultura e espiritualidade autóctones, sem respeitar a rica história, tradições e sabedoria dos povos indígenas”, e assumiu o compromisso de promover uma arrecadação de fundos em todas as regiões do Canadá para apoiar “iniciativas assumidas localmente com os parceiros indígenas”.

Em 2015, após sete anos de investigação, a Comissão de Verdade e Reconciliação do Canadá divulgou um relatório sobre escolas residenciais, revelando que entre 1890 e 1996 mais de 3 mil crianças morreram por causa de doenças, fome, frio e outros motivos.