Arquidiocese de Braga -

25 março 2024

“Trabalho e Habitação, como pilares da Dignidade Humana”

Fotografia

Liga Operária Católica Movimento de Trabalhadores Cristãos

Conclusões do encontro diocesano, de âmbito nacional, de formação

\n

O trabalho e habitação como pilares da dignidade humana serviram como tema de formação para os militantes da LOC/MTC que estiveram reunidos no dia 23 de março em Braga. Rui Gomes da Equipa Diocesana, foi a pessoa escolhida para coordenar esta formação. Tudo aquilo que dignifica é um valor muito caro, que temos o dever de acarinhar e defender. Já o que provoca a indignidade, faz corroer estes pilares de sustentação do trabalho e habitação, ou a sua falta, merecendo da nossa parte a devida contestação. Não ter trabalho ou casa para residir é um dos maiores atentados contra a dignidade humana. Muito se tem falado sobre este assunto, contudo falta ainda percorrer um longo caminho, que nos conduza do tempo do dizer para o tempo do fazer.

Vivemos num tempo que nos apela a recuperar valores no sentido real da palavra: regressar àquilo que tem mesmo valor – a começar pela vida, natureza, dignidade da pessoa, trabalho, vínculos – como chaves da vida humana. São valores que não têm negociação e por isso não podem ser sacrificados. No entanto, não podemos dar por adquiridos, aquilo que já foi conseguido ao longo dos anos com muito esforço e determinação. Se nada for feito, corre-se o risco de se perder as conquistas alcançadas pelos nossos antepassados e por muitos de nós.

O trabalho é condição fundamental para a dignidade da pessoa e o seu bem-estar. Não é justo que se tenha emprego e se continue a ser pobre. O trabalho não é apenas uma maneira de ganhar algum dinheiro, que por vezes não chega, para fazer face às despesas mensais de uma família operária; antes de mais, deve também ser um meio de participação democrática, convivência e expressão do bem-comum. Dar prioridade ao acesso ao trabalho com direitos, deve converter-se em meta central das políticas públicas.

Os presentes neste encontro organizaram-se em grupos para que a reflexão/formação pudesse ser mais consistente no que diz respeito à forma de identificar e combater os atentados à dignidade da pessoa humana e as preocupações daí levantadas. Em plenário os porta vozes dos grupos sintetizaram, a partir de casos concretos: predominam os salários muito baixos que causam avançada precariedade permanente; algumas empresas continuam a apostar na deslocalização; os mais frágeis têm falta de retaguarda familiar; muitos deles vivem em barracos, acampamentos e quartos partilhados; sentem-se que os divórcios e violência doméstica são faces da mesma moeda; falta de respeito pelos trabalhadores que exercem profissão nos supermercados, algumas vezes obrigados a turnos contínuos; falta de organização dos trabalhadores que permite à outra parte explorar; reina o sentido de impunidade e o oportunismo que se instalou, quer em relação à crise habitacional, quer em relação ao trabalho, sobretudo com migrantes.

Tudo isto traz provocações à nossa tua fé

Queremos manter uma preocupação permanente por nós e pelo nosso irmão, “onde está o teu irmão?” Somos a geração do salário mínimo e isto abala a nossa fé. Apesar disso, Jesus continua a animar-nos com as suas palavras desafiantes: “Eu vim para que todos tenham vida em abundância” (Jo 10, 10) e nesta hora de atentados permanentes contra a dignidade humana, os presentes apelam à hierarquia da Igreja uma voz mais forte nesta denúncia. Jesus não nos vai perguntar a quantas missas fomos, mas vai perguntar-nos por aquilo que fizemos ou deixamos de fazer pelos nossos irmãos mais aflitos. Jesus era simples e pobre, mas não era desgraçado; Jesus nunca nos impõe nada; nascemos todos com a mesma dignidade. Mas uns têm acesso a um conjunto de bens e outros não. Podemos ser humilhados, mas temos sempre a mesma dignidade. As atitudes de algumas pessoas são indignas ao permitir e promover trabalhos indignos. Só há liberdade quando tivermos acesso a uma vida livre. Acreditamos que a boa nova de Jesus Cristo um dia chegará a toda a gente. Se Cristo deu a vida por todos os seus filhos; temos obrigação de anunciar uma vida diferente. 

A fé sem obras está morta e a liberdade de expressão paga-se muito cara. 

 

Braga 23 de março de 2024

A Equipa Diocesana da LOC/MTC