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11 Nov 2018
Homenagem junto ao mural
Discurso por ocasião do Centenário do Armistício
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Neste lugar queremos prestar a nossa homenagem aos Brufenses que estiveram presentes nos cenários bélicos, no século passado, em Angola, Moçambique, Guiné, Índia ou em qualquer outro lugar. Recordamos o Leopoldo que faleceu e manifestamos gratidão a quem cumpriu o dever de defender a pátria. Parabéns a todos!

Este ano queremos associar outra efeméride. Na verdade, às 11 horas, no dia 11, do 11º mês de 1918 foi assinado o armistício de paz da Primeira Guerra Mundial. Hoje perfazem-se 100 anos. Nesse dia, em Compiègne, foi assinado, entre os aliados e a Alemanha, dentro de um vagão-restaurante, o fim das hostilidades bélicas. Ficou célebre a expressão, “à undécima da hora, do undécimo dia, do undécimo mês” o mundo poderia estar tranquilo e começar a trabalhar pela reconstrução.

Dezassete países dos cinco continentes guerrearam entre si, através de alianças, por razões que consideravam justas mas que nunca poderão justificar o cenário de destruição de muitas cidades e, particularmente, a morte de 10 milhões de soldados, 21 milhões que ficaram feridos, assim como 13 milhões de civis que também perderam a vida. Só na cidade de Ypres existem 170 cemitérios militares devidamente conservados e que nos oferecem um ambiente de reflexão permanente. Nada pode justificar estes números. Não esqueçamos que nesta guerra foram usadas pela primeira vez armas químicas construídas com gás de mostarda.

Também Portugal esteve presente, inicialmente em Angola e Moçambique, e um pouco mais tarde em diversos lugares da Europa com o chamado “Corpo Expedicionário Português”. Os portugueses estão sepultados em diversos cemitérios. Merece especial destaque o cemitério Militar Português de Richebourg onde estão sepultados 1831 portugueses. Muitos morreram e tantos outros ficaram feridos. Também de Famalicão é significativo o número dos que participaram na guerra e faleceram. Neste dia do centenário do armistício da paz queremos reafirmar que só a paz constrói a Humanidade e que a guerra nunca é a solução para os problemas. O mundo deveria ser uma única família com diversidade de culturas e modos diferentes de interpretar a vida, onde o diálogo e o desejo da concórdia podem mostrar a beleza e a responsabilidade de respeitar o diferente. Teremos sempre fronteiras a limitar os países mas importa também criar pontes entre os povos e nunca muros que impeçam uma interculturalidade que torne o mundo mais harmonioso e belo.

Sonhamos um mundo sem guerras e sabemos que elas continuam a existir em diferentes países, nomeadamente na África e no Médio Oriente, obrigando muitos seres humanos à terrível e escandalosa experiência dos refugiados. Não podemos pensar que tudo depende dos chefes das nações. Urge criar uma cultura da paz na qual somos capazes de conviver com todos e permitir que cada um tenha o direito de construir a sua vida com os seus. A paz é trabalho de todos e em todas as circunstâncias. Ninguém pode alhear-se a esta responsabilidade. 

Ao tomarmos consciência sobre o dever de construir a paz, não podemos ignorar as mortes que as guerras provocam. Hoje recordamos os portugueses falecidos durante a Primeira Guerra Mundial por defenderem os interesses da Pátria. Sigamos o seu exemplo de saber arriscar a vida pelas grandes causas. Se não concordamos com os conflitos bélicos, teremos de inverter a lógica e lutar por uma sociedade mais justa e fraterna. A pátria teve e tem muitos homens que deram desinteressadamente, mesmo sem morrer, a vida por ela. Hoje precisamos destes apaixonados pela causa comum que lutam e trabalham por um Portugal e por um mundo melhor.

Foram muitos os que morreram na Primeira Guerra Mundial. A sua vida pode ser uma interpelação. Quero ler um poema, de um médico canadiano, escrito quando o seu amigo morreu na Flandres onde ele também viria a falecer. Afirma: “a vós entregamos a tocha”. Se trairmos a sua fé, eles não estarão em paz nas sepulturas ainda que sobre estas continuem a crescer papoilas. Estas flores tornaram-se o símbolo, na sua cor vermelha, daqueles que morreram e ainda hoje são oferecidas diariamente e desde 1928 na “Porte de Menin”, onde tive o prazer de rezar há poucos dias.

Diz John McCrae:
“Nos campos da Flandres crescem papoilas
Entre as cruzes que, fila a fila,
Marcam o nosso lugar; e no céu
As cotovias, ainda corajosamente a cantar, voam
Escassas, fazendo-se ouvir entre as armas abaixo.
Nós somos os Mortos. Há poucos dias atrás
Vivíamos, sentíamos o amanhecer,
éramos amados; agora repousamos
Nos campos da Flandres.

Tomem a nossa guerra com o inimigo
A vós entregamos, das nossas mãos moribundas,
A tocha; que seja vossa, para que a mantenhais ao alto.
Se trairdes a nossa fé, dos que morremos,
Jamais dormiremos, ainda que cresçam papoilas
Nos campos da Flandres.”

No símbolo das papoilas, os mortos querem que abracemos da causa de uma Europa unida. Não podemos esquecer a Primeira Guerra. Na romagem que eu fiz a uma das cidades mais bombardeadas, Ypres na Flandres, impressionou-me ver uma cidade, que ficou totalmente demolida, reconstruída segundo o que era antes da guerra. Hoje parece uma cidade medieval mas foi construída, pelos alemães, nos anos 20 do século passado. Dizem os cronistas que Churchil pretendia que em alguns lugares ficassem sinais de uma cidade destruída pelas bombas. Alemanha não quis e construiu uma cidade nova. Parece que se pretendeu passar uma esponja sobre a destruição, procurando que os vindouros não falassem da guerra. Não é possível! Não se podem calar os horrores.

Nesta celebração do centenário, aprendamos a lição dos horrores da guerra e trabalhemos por um mundo mais fraterno e solidário. Os que morreram pedem-nos que não percamos tempo.

† Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz

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