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2 Fev 2022
O novo rosto da Igreja
Homilia na Festa da Apresentação do Senhor.
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Podemos afirmar que a Igreja se encontra em processo de auto-análise sempre na tentativa de corresponder a quanto Cristo dela pretende. O Sínodo não surgiu como uma actividade ou um trabalho de melhoramento. A Igreja tem o seu projecto. Os séculos podem ter permitido alguma deturpação da imagem com musgo que se foi acumulando em diferentes lugares. Importa dar-lhe o brilho primitivo e mostrar ao mundo o rosto que a identifica sem confusões. Ela é diferente. É organização mas é mais do que isso, passa pelos monumentos e riquezas dos museus mas está para além de todas as preciosidades. Mostra-se através de uma palavra que anuncia, mas não é texto lido entre tantos. Aparece como sociedade mas só o Espírito é capaz de a tornar verdadeira.

Sabemos que se integra em toda uma história que se identificou com o peregrinar do povo de Israel no meio de lutas e contendas, algumas que parecem incompreensíveis e outras repletas de muito humanismo. Os profetas foram falando em nome de Deus e preanunciando tempos novos que poucos entendiam.

Foi necessário preparar Maria para, na Imaculada, acolher um pequeno rebento de Israel que viria introduzir novidade aos tempos. O dia que hoje celebramos é elucidativo através de um idoso que não conhecia a família de Nazaré que cumpria as suas obrigações. Não é um judeu a mais mas Cristo é luz para se revelar às nações. Três elementos entram em jogo: as nações do mundo inteiro e não apenas um pequeno país, Cristo como filho de Deus Pai a comunicar e a luz como o modo de o fazer.

Maria, Sua Mãe, foi entendida como protagonista primeiro deste tempo novo; Ela era a Senhora da luz, a Senhora das Candeias. A Igreja, repito, encontra-se hoje, passados 2000 anos, em exame de auto-análise. Todo o povo de Deus procura, em responsável atitude e fidelidade ao Projecto fazendo com que o Seu rosto seja a principal revelação. O Papa Francisco convoca o Sínodo. Não se contenta com a realização de reuniões porventura vivas e confrontantes. Pretende fidelidade ao Espírito para que a Igreja se encontre com a sua raiz para poder dizer algo a este tempo que estamos a viver. Guiados pelo Espírito Santo, em atitude de escuta veneranda que reflete, se confronta, dialoga, experimenta Jesus vivo e presente na comunidade. É Ele que terá de ser luz num mundo decrépito e mostrar o caminho para que isso aconteça. Tudo deve partir desta grande certeza “onde dois ou mais estão reunidos no meu nome Eu estou presente no meio deles”. É a Sua presença que conta.

Daqui partiremos, seguindo os caminhos traçados para hoje pelo Concílio Vaticano II. Convosco, neste dia e na última celebração como Arcebispo a partir desta Catedral onde se sentaram tantos arcebispos insignes e santos, quero reafirmar com a clareza que os católicos deveriam acolher “A luz dos Povos que é Cristo”, Lumen Gentium. Cristo é a luz para todas as épocas e, particularmente, para esta que temos dificuldade em identificar. Será que estamos verdadeiramente convencidos desta verdade? Não podemos deixar de nos interrogar, colocando no singular, no limitado espaço pessoal, se Cristo é luz para mim. Quem ilumina os meus passos de Arcebispo, padre, seminarista, consagrado, leigo? É chegada a hora da verdade. Pessoalmente, rezo para que nesta alteração de Bispo aconteça este reencontro singular com Cristo de modo que se torne luz. O Sínodo pretende confirmar e eliminar pormenores da vida da Igreja na comunhão, na participação, na missão. É Cristo que gera a minha comunhão, talvez custosa, com todos; é Ele que motiva a minha participação nos âmbitos da vida eclesial; é Ele que alegra o meu quotidiano viver na missão única que colocou nas minhas mãos?

Quando aceitamos esta verdade, podemos partir para o trabalho a realizar. Tomemos, mais uma vez, consciência das primeiras palavras do Concílio Vaticano II que são de certeza liminares. Pretende-se iluminar com a sua luz e não outra, fazendo-a resplandecer no rosto da Igreja, que ilumine o caminho dos homens e tudo anunciando o Evangelho a toda a Criatura. Basta o Evangelho para iluminar, a resplandecer no rosto das comunidades e na vida individual das pessoas para que interpele todos os homens no respeito pela sua dignidade e liberdade, mas mostrando o que obrigatoriamente gera felicidade. Eis as palavras de ordem para hoje, com a luz de Cristo a iluminar o coração da humanidade inteira e fazer com que resplandeça no rosto das comunidades dando plenitude ao peculiar de cada pessoa.

Nesta última celebração na Catedral, como Arcebispo, sinto de efectuar uma retrospectiva para reconhecer que fui procurando modos e maneiras de renovar a pastoral como arte de anúncio. Poderá ter sido importante. Hoje reconheço, e sinto de deixar uma mensagem, que não é nova pois a tenho abordado imensas vezes, que é mais imperioso o encontro com Cristo para que seja Ele a resplendecer. Trata-se de uma experiência pessoal de vida em Cristo e com Cristo, através da Palavra, que terá de encontrar outra dimensão no encontro fraterno com todos, como irmãos. Celebramos a festa da Senhora das Candeias. Não sei como se fazem as velas. Sei que resultam de uma fusão de muita cera para ser uma coisa só que ilumina gastando-se. Não permanece na mesma. Vai morrendo para si para poder brilhar. Eis o que gostaria de deixar neste dia. Apaixonemo-nos por apresentar Jesus, qual vela que ilumina a humanidade e que se constrói com todos e se gasta para poder iluminar. 

À Senhora das Candeias confiemos esta mudança de arcebispo para que aconteça uma purificação de processos e a Arquidiocese seja mesmo luz, não própria, mas de Cristo e que o seja para todos, crentes e não crentes. Trabalhemos para este milagre e que esta seja a minha última prece. A luz de Cristo nasce da unidade entre todos.

 

 † Jorge Ortiga, Administrador Apostólico

 
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