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16 Mar 2021
Nos 160 anos da morte do Fradinho do Carmo, Frei João da Ascensão
Mensagem do Arcebispo Primaz por ocasião dos 160 anos da morte de Frei João da Ascensão.
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  © Carmelitas

O venerável Frei João da Ascensão nasceu no dia 26 de Outubro de 1787, na paróquia de São Romão de Neiva, diocese de Viana do Castelo, que então pertencia à Arquidiocese de Braga. Foram seus pais Maria Francisca Peixoto e Manuel Dias Delgado, cristãos laboriosos e piedosos, totalmente comprometidos com o seu contexto social e com a sua comunidade paroquial. Ao longo da sua história de vida, esta família revelou-se uma verdadeira igreja doméstica, em cujo seio acolheu e educou oito filhos, vindo dois deles a consagrar-se sacerdotes, um para o serviço da Arquidiocese de Braga, o Pe. Manuel Joaquim Peixoto, que depois dos estudos teológicos no Seminário de Braga foi pároco em São Miguel de Alvarães, Viana do Castelo, e João Luís Peixoto, mais tarde Frei João da Ascensão, que professou como Carmelita Descalço no convento de Nossa Senhora dos Remédios de Lisboa em meados do ano de 1804.

Uma das características mais profundas desta família é a sua arreigada piedade mariana, que se manifesta, por exemplo, na construção da capela de Nossa Senhora do Carmo sob o impulso do Pe. Manuel Joaquim Peixoto, junto da casa familiar, no Lugar de Cima, daquela Paróquia de São Romão de Neiva.

Três são, poderíamos dizer, os pilares da família de Frei João da Ascensão: o compromisso cristão e a piedade mariana, a afeição pelas letras e o compromisso social. Como família cristã, viviam da confiança no coração bondoso de Deus Pai, ensinavam e praticavam as obras de misericórdia e o santo temor de Deus a seus filhos e filhas; conscientes das implicações do seu baptismo, ajudavam a sua comunidade paroquial e viveram vinculados a várias figuras eclesiásticas, daquele mosteiro de São Romão e outros da região do Lima. No compromisso com as letras e o saber, é bem conhecida a tradição familiar de dedicação às leis e à medicina. É ainda de relevar o compromisso social desta família, em cujas terras se empregava vasta mão de obra, uma a tempo inteiro, outra provinda da sazonalidade, tal como é possível vê-los comprometidos com as ajudas a vizinhos nas horas de maior apuro.

É no seio familiar que João Luís Peixoto, depois de seu irmão Manuel Joaquim, descobre e discerne a sua vocação sacerdotal e religiosa e é ali onde se aperfeiçoa nas primeiras letras e no cuidado samaritano à Igreja de Jesus Cristo. Depois de professar como Carmelita Descalço, frequentou os colégios filosófico-teológicos da sua Ordem em Portugal, nomeadamente o do Carmo de Braga, onde foi ordenado sacerdote no dia 27 de dezembro de 1811. Aqui residiu mais três anos, como aluno e professor auxiliar de Teologia Moral; foi depois conventual do hospício do Carmo de Vila do Conde, pertencente também a estas terras da Arquidiocese de Braga. A breve trecho iniciar-se-á como leitor de Filosofia e Teologia em vários colégios superiores da sua Ordem, ocupando, em alguns períodos, a função de reitor do colégio de São João da Cruz de Carnide em Lisboa.

Em meados de 1833 viu-se exclaustrado do seu convento de Carnide, vítima de uma das primeiras ondas da reforma eclesiástica promovida pelos governos liberais. Depois de reconhecido pelo povo de Deus como pregador afamado, como insigne leitor de Filosofia e Teologia, e como reitor dos colégios, chegou a Braga no ano de 1839, como pouco mais do que mendigo e algo menos que frade mendicante, visto que a sua Ordem Religiosa, como as demais, tinham sido banidas do contexto social e eclesial do reino.

Em Braga viveu os últimos vinte e dois anos de vida em três casas amigas. Primeiro na casa de um Cónego da Sé Catedral, depois na casa de um seu confrade Carmelita Descalço e por fim na de uma família amiga dos Carmelitas que dele se apiedou. Foi neste período, depois de ter servido a Igreja como ilustre professor, já dispensado da observância regular, mas sempre fiel à Regra do Carmo e sempre revestido de seu hábito de Descalço, que mais refulgiu. Vivendo da caridade e bastando-se com muito pouco, Frei João da Ascensão acolheu e serviu os pobres de Braga, tantos deles envergonhados, recebendo de alguns com uma mão e dando, discretamente, com as duas. Rezam ainda alguns textos da sua Ordem, e é voz da tradição popular bracarense, que neste último período de vida se dedicou mais intensamente à prática das obras de misericórdia, à vida de oração, à dedicação bondosa aos afligidos, ao confessionário, aos sufrágios pelas almas do Purgatório, ao bem das almas e à unidade da Igreja.

Por anos a fio, até à sua morte em Braga, as gentes da cidade viram e auscultaram o coração fiel, dedicado e sábio de Frei João da Ascensão, a quem cognominaram como Padre Mestre Neiva e Santo Fradinho do Carmo. As suas exéquias decorreram na Igreja do Carmo desta cidade, onde ficou sepultado. Depois da sua morte aqui peregrinaram as gentes de Braga e as de longe de Braga, mesmo de fora dos limites da Arquidiocese, tal como a memória escrita e oral ainda recorda. O povo visitava a sua sepultura em reconhecimento das virtudes de serviço aos pobres, como preito de gratidão por graças recebidas e porque o reconheciam como seu piedoso intercessor junto do coração do bom Deus.

No ano em que se celebram os 160 anos da sua morte, a Arquidiocese de Braga tem vindo a assumir, como programa Pastoral, o itinerário da caridade, seguindo as interpretações da parábola do Bom samaritano. Queremos uma Igreja atenta e comprometida com os mais pobres e desamparados, procurando ver os diversos rostos de todas as formas de pobreza, material e espiritual, e discernir, pessoal e comunitariamente, respostas de compaixão, solicitude e intervenção. Necessitamos de referências e modelos, e reconhecer que alguém que se consagrou à causa dos mais necessitados da cidade de Braga é um estímulo para que façamos o mesmo.

A Arquidiocese de Braga dá graças a Deus pela vida fiel do venerável Frei João da Ascensão Neiva, Carmelita Descalço, porque exemplo fidelidade à Igreja e de dedicação e solicitude aos mais pobres. Espera que o testemunho da sua vida seja conhecido e imitado. Outrora iniciou-se o processo da sua beatificação, e que veio a ser interrompido por razões desconhecidas, mas é de esperar que, em colaboração e trabalho conjunto com a Ordem do Carmo, volte a ser reintroduzido para bem da Igreja e da sociedade. Desejo que se aproveite este aniversário para o dar a conhecer. A Igreja do Carmo pode ser o lugar mais adequado. 

Saibamos, sacerdotes e leigos, aprender as lições de vida do Fradinho do Carmo. Como ele, caminhemos com os necessitados, sendo samaritanos de todos os problemas da sociedade moderna.

 

 † Jorge Ortiga,
Arcebispo Primaz

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