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ANO PASTORAL
"Juntos no caminho de Páscoa"

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7 Nov 2021
O sínodo e o seminário
Homilia na abertura solene dos seminários.
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O dia em que procedemos à abertura solene das aulas no Seminário é sempre um momento para evocar um ano que terminou e perspectivar um novo, na fidelidade ao programa pastoral que toda a arquidiocese procurar interpretar. O Seminário nunca poderá pensar que o Programa não lhe pertence. Como alma da Arquidiocese, tem de ajudar a dar sentido ao Programa e contribuir para que todos se envolvam. Deve ainda assumir a responsabilidade de ajudar a que todas as comunidades o acolhem.

Esta celebração reveste-se de um significado especial. Estamos a celebrar os 450 anos de existência dos nossos Seminários. Fomos dos primeiros no mundo. Temos que permitir que esta circunstância nos coloque na vanguarda desta experiência eclesial. Se possível em número de candidatos, mas sobretudo na fidelidade ao projecto que lhe deu vida e, ao mesmo tempo, ousando situar-se nas novas situações temporais, eclesiais e civis. Hoje, em caminho sinodal, teremos de discernir a verdadeira fisionomia que o deve caracterizar. Todos os anos referimos que os seminários pertencem a todas as comunidades e membros que as compõem. Este ano seria de augurar que muitos se envolvessem neste intuir o que Deus pretende. Uma coisa é certa. Não passaram de moda. A sua função é estruturante para a Arquidiocese. As coordenadas que os identificam encontram-se em muitos documentos da Santa Sé. De modo semelhante, o Espírito ajuda a definir critérios para um Seminário para os dias de hoje. A partir daí teremos de nos consciencializar de que os Seminários não são um fim neles mesmos. Vivem em função da Igreja que queremos. 

Muitas coisas poderemos considerar nesta Igreja que se quer em saída, nunca auto-referencial, fechada numa bolha protectora. É no Seminário que se aprender a ir ao encontro com a realidade humana tal e qual ela é. Continuamos a ter na nossa cabeça estereótipos daquilo que fomos assimilando ao longo de anos. O hoje oferece-nos uma hora diferente e o caminho a percorrer tem de se assumir como totalmente oposto ao que estamos a percorrer. Não continuemos a teimar em andar pelos mesmos caminhos.

O Programa Pastoral sublinha um aspecto muito fundamental “O humanismo cristão pede uma conversão profunda, que conduz a uma redescoberta do sagrado e da sacralidade no mundo, particularmente do sagrado em cada pessoa humana. Convida-nos a uma visão cósmica de Jesus Cristo e a encontrar Deus em Jesus Cristo, tornado homem frágil nos nossos irmãos frágeis, com compaixão operosa e o amor preferencial. Pode também dizer-se: o humanismo espiritual é uma mística não dos olhos fechados, ao mundo, à miséria, à exclusão social; mas uma mística dos olhos bem abertos, que nos leva a ter sempre as mãos disponíveis e os pés calçados para nos fazermos próximos de quem está ferido, cooperando para a civilização do amor. É certo que nunca chegaremos ao fim. Mas a sabedoria do Talmude ensina: «Quem salva um homem salva o mundo inteiro»”.

Hoje, o Seminário terá de educar para esta sacralidade do mundo, particularmente em cada pessoa, sendo capaz de encontrar Deus em Jesus Cristo, feito frágil nos nossos irmão e irmãs frágeis. A nossa mística não pode ser uma mística de olhos fechados ao mundo, à miséria e à exclusão social, mas terá de ser uma mística de olhos bem abertos que nos leva a ter sempre mãos disponíveis para enfaixar as dores, fazendo-nos próximos de quem está ferido.

Há aqui uma renovação copernicana que o Seminário deve fazer. Outrora era uma casa fechada, preparada para responder a pedidos e solicitações. Hoje, a formação sacerdotal tem de partir do mundo, da fragilidade, da debilidade e comprazer-se na solicitude e atenção a todos, crentes ou não crentes. Outrora a mística fechava os olhos para contemplar as realidades exteriores. Hoje, teremos de nos preparar para uma mística de olhos abertos onde tudo o que é humano interessa e aí encontrar resposta humanitárias adequadas. Não vai ser fácil esta mudança. Vemos muitos sacerdotes, mesmo recém ordenados, fechados nas suas coisas e passado pouco tempo sentem-se desencantados. Ainda continuamos a percorrer dois caminhos. Aqueles a quem nada falta e aqueles que ficam marginalizados e descartados. E, inconscientemente, vamo-nos integrando no primeiro grupo. O mundo será o lugar onde a Igreja cresce. Hoje parece-nos que as igrejas começam a ficar vazias. Falta estar com quem sofre talvez sacrificando actividades litúrgicas.

O Sínodo deve ser uma graça para os Seminários. Tem havido muita reflexão. O Espírito irá situar-nos nestes tempos novos. Talvez muita coisa tenha de cair. Preservamos uma verdadeira mística cristã que tornará a pastoral mais próxima, mais incarnada, mais social, característica da alegria de andar pelos caminhos das pessoas e de não esperar que venham. O Bom Pastor vai ao encontro.

O Seminário tem de ensinar a cuidar das feridas, mostrando que o amor é verdadeiro quando transparece em gestos. Ao iniciarmos um novo ano académico, tenhamos este objectivo bem presente. Criemos experiências e comuniquemos o que vivenciamos. O ferido poderá ensanguentar as mãos ou as vestes. São exigências do ministério e são o nosso dever ser. Obrigado a vós seminaristas pelo desejo que manifestais de querer percorrer este caminho comigo. Agradeço aos vossos pais e peço a Deus pelos benfeitores. Nunca esqueçamos que os Seminários necessitam da generosidade de todos. S. Bartolomeu dos Mártires teve muitos problemas para construir e levar em diante o Seminário. Foi sempre assim. O Evangelho mostra-nos a generosidade dos pequenos, e gostaríamos, também, de contar com outros. Hoje também necessitamos de benfeitores.

Que S. Bartolomeu dos Mártires nos conceda o dom de sermos seus continuadores e de darmos vida por um seminário para os dias de hoje. 

 

 † Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz

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