Arquidiocese de Braga -

1 maio 2023

Alegra-te, acólito!

Fotografia DR

Homilia da Eucaristia por ocasião da 27ª Peregrinação Nacional dos Acólitos

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1. Alegra-te!

«Alegrai-vos sempre no Senhor! De novo vos digo: alegrai-vos!» (Fil 4, 4)
. Este convite para nos alegrarmos, e para nos alegrarmos sempre, como se fosse a primeira vez, chega até nós da parte de Deus, pela boca de São Paulo. E, se pensarmos com coração generoso, temos muitos motivos para nos alegrarmos: nascemos no seio de uma família, fazemos parte de grupos de amigos, recebemos o dom da fé, crescemos livremente numa comunidade cristã, temos acesso ao sistema de ensino e de saúde, temos esperança no futuro, exercemos o ministério de acólitos/as, estamos a participar nesta 27ª Peregrinação Nacional dos Acólitos a Fátima...

De facto, muitos podem ser os motivos da nossa alegria, mas esta alegria é para ser vivida no Senhor: Deus quer tomar parte nas nossas alegrias, quer ser também Ele uma razão para nos alegrarmos. Por isso nos convida a alegrar-nos sempre n’Ele, com Ele e por Ele. Quando encontramos em Deus a fonte da nossa alegria, então vivemos entusiasmados, isto é, cheios de Deus, habitados por Ele. E isso alegra verdadeiramente a nossa vida.

2. Alegra-te, como Maria!

Maria também recebe este convite de Deus: alegra-te! Esta é a saudação que o Anjo Gabriel dirige a Maria: «alegra-te, cheia de graça!» E, porque Maria escuta a voz de Deus, acolhe a alegria de que Ele é fonte e, só assim, aceita a missão de ser Mãe de Jesus. Por isso, na Liturgia que escolhemos para a celebração desta Peregrinação, comemoramos a Virgem Maria como causa da nossa alegria, porque ela recebe o chamamento de Deus e assume-o como compromisso e missão na sua vida, como quem exulta e rejubila no Senhor.

Mas como se exprime a alegria de Maria? Depois do encontro com Deus através do Seu enviado, Maria levanta-se imediatamente e parte com diligência ao encontro da sua prima Isabel. Quem vive animado por Deus, repleto da Sua presença, não consegue conter a alegria no seu coração, mas deixa que ela transborde e contagie outras pessoas. Maria levanta-se, isto é, assume a atitude da vida nova, da ressurreição, da abertura aos planos de Deus. Mas não fica apenas de pé; antes, parte com prontidão e disponibilidade, para ir ao encontro de quem dela precisa, de quem precisa de ser visitado pela alegria.

Por isso é que este ícone mariano foi escolhido pelo Papa Francisco para as Jornadas Mundiais da Juventude deste ano 2023 em Lisboa: como Maria, somos chamados por Deus, porque O escutamos; somos recetáculos da sua alegria, porque O acolhemos; mas também somos convidados a difundi-la, através do nosso espírito jovem, com todo o nosso ser, inteiramente, porque Deus nos impulsiona para a missão.

Tendo terminado recentemente a Semana de Oração pelas Vocações, não nos podemos esquecer que Deus chama-nos sempre para tomar parte da Sua alegria: foi assim com Maria; é assim também com cada um de nós. E o grupo de acólitos/as de cada uma das vossas comunidades pode ser um ambiente propício para escutar, encontrar e discernir a vocação. Muitas vezes, Deus fala no meio do serviço que lhe prestamos na Liturgia, como acólitos/as, para nos chamar a viver com Ele na alegria. E pode chamar-te a ser sacerdote; ou para seguires a vida religiosa, num instituto de vida consagrada; ou à vida matrimonial, para constituíres uma família cristã; ou a partir em missão, para levares com alegria o Evangelho da Esperança, que é Cristo, a quem ainda não ouviu dele falar.

Queridos acólitos e acólitas, Deus interpela-vos pessoalmente a uma vocação concreta, como chamou Maria, para viverdes plenamente na alegria!

3. Um serviço alegre!

E também é possível viver a alegria no serviço de acólito? Sim! Acólito, alegra-te! Alegra-te como Maria! E não o faças porque te foi confiada uma função ou um ministério. Não procures ser alegre apenas quando estás contente ou porque reconheceram o teu serviço dedicado.

Para seres como Maria, reveste-te da alegria! Reveste-te de Cristo! A veste branca que usas para exercer o ministério de acólito é a veste batismal, é aquela que recebeste no dia do teu Batismo, pelo qual foste integrado como filho, filha, de Deus, habitação do Espírito Santo e membro vivo da Igreja. Mas esta veste branca não é apenas uma memória do Batismo nem um instrumento para o serviço do Altar. Esta veste é aquela que nos faz sentir amados pelo Pai, pertença de Cristo e habitados pelo Espírito Santo.

Tomar consciência do significado desta veste batismal faz-nos sentir que o Espírito Santo desce sobre nós sempre que exercemos o ministério de acólitos e que nos impulsiona para um serviço frutífero. E sabeis qual é um dos doze frutos do Espírito Santo? Precisamente, a alegria. Ora, quem se reveste de Cristo produz frutos pela ação do Seu Espírito e, por isso, exerce o seu serviço em Igreja com alegria! É assim, caros acólitos/as, que somos chamados a viver a alegria no serviço do Altar.

4. Sê alegria!

Se ser acolhedores e transmissores da alegria de Deus já parece uma missão bastante arrojada, poderíamos ficar satisfeitos por viver em plenitude esta vocação e missão de acólitos/as. Só que Deus pede-nos sempre mais, convida-nos a uma configuração sempre maior com Ele, no caminho da santidade. E, por isso, nos pede para Lhe darmos uma alegria.

O padroeiro dos acólitos/as de Portugal, São Francisco Marto, sentia que o coração de Jesus era muito ultrajado pelos pecados da humanidade. E, por isso, era levado pelo profundo desejo de consolar o coração de Jesus, passando horas seguidas em oração, em frente ao sacrário, na Igreja Paroquial de Fátima, pois – como ele dizia – queria dar alegria a um Deus que estava triste com os agravos ao Seu coração.

Como acólitos/as, também podemos ser alegria e dar muitas alegrias a Deus: podemos dedicar tempo à contemplação de Jesus, escondido no sacrário das nossas Igrejas; podemos participar com mais alegria na Eucaristia; podemos procurar a reconciliação, para sentirmos o abraço do coração de Jesus; podemos convidar mais jovens a ser acólitos/as e a integrar o nosso grupo para o exercício alegre do ministério; podemos conhecer melhor a vida de santidade dos nossos padroeiros, São Tarcísio e São Francisco Marto, procurando um caminho de santidade, vivido na alegria do Evangelho.

Estimados acólitos/as, que participais nesta Peregrinação Nacional a Fátima, rezo por vós e por tantos acólitos/as de todas as comunidades cristãs de Portugal, para que, a exemplo de Maria e de José vos torneis servidores da alegria, que é Cristo vivo em vós!

+ José Manuel Cordeiro