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11 Fev 2023
O dom das lágrimas
Mensagem para o Dia Mundial do Doente
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  © Tom Caillarec / Unsplash

Na homilia de Quarta-Feira de Cinzas de 2015 o Papa Francisco questionou: «Choro? O Papa chora? Os cardeais choram? Os bispos choram? Os consagrados choram? Os sacerdotes choram?» E acrescentava: «Far-nos-á bem, a todos, mas especialmente a nós, sacerdotes, pedir o dom das lágrimas, para que a nossa oração e o nosso caminho de conversão se tornem mais autênticos e sem hipocrisia».

O dom das lágrimas é o princípio da compaixão. Pedi-lo é o pressuposto para despertar nos nossos corações aquela comoção ativa que motivou o bom samaritano para a proximidade desarmada; daí ter visto o que os outros haviam somente avistado; daí ter corrido os riscos a que os outros se subtraíram; daí ter gasto do seu azeite e vinho que os outros pouparam; daí ter carregado o ferido na sua própria montada; daí ter pedido ajuda ao estalajadeiro; daí reclamar exclamativamente um cuidado futuro que o comprometia também a ele: «trata bem dele!» O dom das lágrimas trabalhou no seu coração, obrigou-o interiormente a acompanhar com fidelidade aquele que havia sido silenciado.  

Em cada ano a Igreja reserva o dia 11 de fevereiro, dia da Senhora de Lourdes, como Dia Mundial Doente. Vamos já no 31º Dia Mundial do Doente. Se queremos uma Igreja sinodal samaritana que vai além das lágrimas vertidas no sofá, precisamos de uma nova comoção do coração que origine órgãos e organismos de comunhão nas comunidades cristãs. Um dia perguntou o Bispo São Gregório de Nazianzo: «Quantas lágrimas teremos de chorar para igualar a fonte do Batismo?» Por isso, exortamos as comunidades a uma operação de peito aberto.

 

1. Um coração agradecido. Nós, Bispos da Arquidiocese de Braga, queremos antes de mais manifestar a nossa proximidade e gratidão aos doentes físicos e psíquicos, aos cuidadores formais e informais que os acompanham em casa ou nas instituições da área da saúde, aos que dedicam a sua vida à investigação para debelar todas as formas de sofrimento, aos voluntários e aos que de forma anónima se esforçam por tecer laços pessoais, eclesiais e civis de fraternidade. Que todas as comunidades saibam acompanhar com coração agradecido.

 

2. Um coração vigilante. É fácil passar ao lado dos que estão doentes e dos seus, tantas vezes, invisíveis cuidadores. Frequentar assiduamente as alegrias e esperanças, tristezas e angústias dos que atravessam a doença, acompanhá-los, é o sinal inequívoco de que cada vida é infinitamente valiosa. Se os doentes «não encontram na Igreja uma espiritualidade que os cure, liberte, encha de vida e de paz, ao mesmo tempo que os chame à comunhão solidária e à fecundidade missionária, acabarão enganados por propostas que não humanizam nem dão glória a Deus» (EG 89). Que todas as comunidades saibam o nome próprio dos seus doentes e dos seus cuidadores.

 

3. Um coração compassivo. O sofrimento e a doença, por si só, desumanizam. Por isso, o Papa Francisco na mensagem para o Dia Mundial do Doente de 2023, identifica a compaixão como uma virtude ativa. Um coração compassivo não permanece na lágrima fácil: procura quem se perdeu, reconhece quem está ou foi silenciado, contagia-se com o sofrimento do outro, assume a fragilidade como força nuclear, organiza-se, inventa formas novas de amar, forma-se academicamente, não se perde em discursos de boas intenções, não desiste, escolhe preferencialmente os descartados. Que todas as comunidades formem os seus agentes e as suas instituições saibam acompanhar na compaixão que dignifica. 

 

4. Um coração distendido. Como afirmou o Papa Francisco: «desejo afirmar, com mágoa, que a pior discriminação que sofrem os pobres é a falta de cuidado espiritual. A imensa maioria dos pobres possui uma especial abertura à fé; tem necessidade de Deus e não podemos deixar de lhe oferecer a sua amizade, a sua bênção, a sua Palavra, a celebração dos Sacramentos e a proposta dum caminho de crescimento e amadurecimento na fé. A opção preferencial pelos pobres deve traduzir-se, principalmente, numa solicitude religiosa privilegiada e prioritária». (EG 200). Que todas as comunidades disponibilizem ativamente todos os sacramentos aos doentes e aos seus cuidadores, sobretudo o Sacramento da Unção e o Viático. 

 

5. Um coração missionário. Não basta praticar a fé no contexto familiar. O decreto-lei 253/2009 que estabelece a assistência religiosa nos estabelecimentos de saúde do Serviço Nacional de Saúde, afirma que essa assistência é uma “necessidade essencial” com efeitos relevantes no enfrentamento da doença e do sofrimento, particularmente nas situações de sofrimento e em fim de vida, e que “contribui para a qualidade dos cuidados prestados”. Que todas as comunidades e os seus doentes saibam afirmar a sua identidade cristã em contexto de internamento hospitalar e reclamar a assistência espiritual e religiosa a que têm legalmente direito.  

 

«Trata bem dele!» pediu o bom samaritano. Não é um discurso. É uma operação de peito aberto.

 

Braga, 11 de fevereiro,
Memória da Virgem Santa Maria de Lourdes

 †  José Cordeiro, arcebispo primaz
†  Nuno Almeida, bispo auxiliar
†  Delfim Gomes, bispo auxiliar

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