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Sé de Braga| 5 Dez 2022
Artesãos da Justiça e da Paz
Homilia na apresentação de D. Delfim Gomes à Arquidiocese de Braga
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  © Agência ECCLESIA/OC

O Arcebispo São Geraldo (1096-1108), padroeiro da cidade de Braga 5 de dezembro de 2022

 

Até ao fim do fim

Hoje comemoramos 914 anos do dies natalis, de São Geraldo, isto é, o dia do falecimento ou nascimento para o céu do santo Arcebispo, padroeiro da tão antiga e sempre nova cidade de Braga.

O Martirológio Romano escreve: «Geraldo, natural da Gália, professou no mosteiro de Moissac, de onde passou para Toledo; depois foi eleito bispo de Braga, onde exerceu grande atividade na reorganização da diocese, na promoção da vida monástica, na reforma litúrgica e pastoral, na reconstrução de igrejas, bem como na aplicação da disciplina eclesiástica. Morreu neste dia 5 de dezembro, na localidade de Bornes, quando fazia as visitas pastorais nessa distante região».

Mons. José Augusto Ferreira grafou, a partir da “Vida de São Geraldo” escrita por D. Bernardo, no tomo I dos Fastos episcopais da Igreja Primacial de Braga: «no cumprimento do seu dever pastoral e nobre desempenho da sua missão, já doente, arrastou-se até Bornes, concelho de Vila Pouca de Aguiar, ali consagrou a igreja, pregou e administrou o sacramento do crisma; porém a doença agravou-se por tal modo, que no dia 5 de dezembro de 1108, reunidos os padres da sua comitiva, deu-lhes a bênção, ouviu Missa, comungou, e assim morreu, voando a sua alma gentil ao Céu, para viver com Deus».

São Geraldo é, juntamente com Isaías, João Batista, a Virgem Santa Maria, um protagonista no tempo do Advento que vivemos na Liturgia da Igreja.  O Advento é chave de leitura de todo o Ano Litúrgico porque nos ajuda à compreensão das celebrações das festas do Natal que se aproximam e, sobretudo, nos aviva a dimensão da esperança na escatologia, ou seja, da vinda definitiva de Jesus Cristo na glória.

S. Geraldo teve uma solicitude pastoral notável. O seu tempo foi difícil. Mas haverá tempos fáceis?

Por isso, no evangelho de S. Lucas escutámos a pergunta: «quem é o administrador fiel e prudente, que o Senhor estabelecerá à frente da sua casa?» e a leitura da segunda carta aos Coríntios frisa a paciência pastoral: «não desanimamos neste ministério que nos foi confiado pela misericórdia de Deus».

Reconhece-se a São Geraldo: o cuidado com o presbitério; a reforma dos costumes; a proximidade com o Povo santo de Deus pela visita pastoral e a fidelidade na administração dos mistérios de Cristo e da Igreja.

O ministério episcopal de São Geraldo foi marcado pela passagem da Liturgia moçarábica para a Liturgia Romana, promovendo a renovação litúrgica.

O Arcebispo tinha como modelo operativo e intercessor, o Bispo São Nicolau (séc. IV), que a Liturgia da Igreja comemora amanhã.

 

O amor é político

Foi constante a ação de São Geraldo na restauração da Metrópole bracarense, — para o que teve de fazer duas viagens a Roma e conseguiu do Papa Pascoal II a reunião do concilio de Palência. 

A este concílio, que ocorreu a 28 de dezembro de 1101, leu-se a bula com que Pascoal II restaurava a antiga e distinta Metrópole bracarense: «Aos Bispos das Espanhas: não desconhece a vossa experiência que muito tempo estiveram ao abandono tanto a Igreja de Braga como outras Igrejas metropolitanas da Espanha, algumas das quais se dignou Deus omnipotente restaurar em nossos dias para glória do estado pontifício. Por isso que, assim como por outras letras sabemos havê-lo decretado, do mesmo modo também pelas presentes recomendamos ao vosso amor de [filhos] que cada um de vós saiba que, por força dum antigo direito, as Igrejas a si confiadas pertencem à Metrópole bracarense, e a Geraldo, vosso venerável irmão, a quem, por desígnio do Senhor, fazemos Metropolita da mesma cidade, prestem (sic) respeitosamente a obediência devida como ao próprio Arcebispo. «Se porém, algum conflito acerca dos limites das Igrejas existir, resolva-se ou na nossa presença ou na do nosso legado. Dadas [as letras] em Latrão, 28 de Dezembro». 

Na linha de São Paulo VI, o Papa Francisco sublinha muitas vezes que: «A política é a forma mais alta, maior, da caridade. O amor é político, isto é, social, para todos». 

Na verdade, «a política, é mais nobre do que a aparência, o marketing, as diferentes formas de maquilhagem mediática. Tudo isto semeia apenas divisão, inimizade e um ceticismo desolador incapaz de apelar para um projeto comum. A pensar no futuro, alguns dias as perguntas devem ser: “Para quê? Para onde estou realmente a apontar?” Passados alguns anos, ao refletir sobre o próprio passado, a pergunta não será: “Quantos me aprovaram, quantos votaram em mim, quantos tiveram uma imagem positiva de mim?” As perguntas, talvez dolorosas, serão: “Quanto amor coloquei no meu trabalho? Em que fiz progredir o povo? Que marcas deixei na vida da sociedade? Que laços reais construí? Que forças positivas desencadeei? Quanta paz social semeei? Que produzi no lugar que me foi confiado?”» (Francisco, FT 197).

A fruta multicolor e perfumada no altar de São Geraldo, evocando o milagre no declinar da sua peregrinação terrena, representa a possibilidade do impossível. Que seja o símbolo da abundância de dons de concórdia e de paz e como o nosso Santo Arcebispo sejamos artesão de justiça e de paz na nossa bela cidade, para que seja mais humana e mais fraterna com todos e cada um, especialmente com os que mais precisam nas problemáticas atuais de habitação, trabalho e desigualdades sociais.

Já esta manhã as crianças bracarenses encheram esta vetusta Catedral. Os alunos da escola da Sé representaram aqui diante do altar com muita esperança a concórdia e a paz vividas por São Geraldo, um grande artesão da fraternidade universal e a amizade social à luz do Evangelho da paz.

 

Sê muito bem-vindo D. Delfim Gomes

Ontem participamos da enorme alegria na nobre simplicidade da ordenação episcopal de D. Delfim Gomes na igreja Catedral de Bragança-Miranda, na proximidade com Deus, com o Sucessor de Pedro, com o colégio episcopal, com o presbitério e com o Povo santo de Deus.

Aqui na nossa Sé de Braga, queremos continuar a ação de graças pelo dom recebido e agora na missão confiada e como titular de Dume e Auxiliar da Arquidiocese de Braga.

A sinodalidade é um caminho de escuta, que estamos a aprender juntos, para a comunhão, participação e missão na vida eclesial: «Juntos, em processo sinodal dinâmico, seremos capazes de imaginar um futuro diferente para a Igreja Bracarense: alegria contagiante, escuta acolhedora, portas abertas, mãe que busca os seus filhos, centrada no Evangelho, discípula missionária, formação permanente, comunhão pastoral» (Carta pastoral).

Caríssimos D. Nuno e D. Delfim, intercedemos a São Geraldo pelo nosso ministério episcopal e por uma cada vez maior ação sinodal samaritana na comunidade arquidiocesana.   A alegria de evangelizar, a fraternidade e o acolhimento de todos nos convertam a Jesus Cristo Bom Samaritano da humanidade.       

São Geraldo incita-nos a viver para o essencial, conforme o estilo de São Bento: «não prefiram absolutamente nada a Cristo, nada preferir ao amor de Cristo». Não tenhamos ilusões! Sem a oração não há missão, da contemplação à ação, e sem relação com Cristo de pouco servem os instrumentos exteriores de comunhão. «Revelar-se-iam mais como estruturas sem alma, máscaras de comunhão, do que como vias para a sua expressão e crescimento». (São João Paulo II, NMI 43).

Estamos todos a aprender a caminhar juntos, pois unidos em Cristo Bom Samaritano somo Igreja Sinodal!

+ José Manuel Cordeiro 

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