Arquidiocese de Braga -
9 junho 2023
Pão repartido por amor
Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo, 8 junho 2023
\n \n1. Celebrar, peregrinar e adorar
Antes de mais, estamos à volta do Altar, que é Jesus Cristo, para celebrar o que Ele mandou fazer em sua memória – a Eucaristia. Depois faremos a procissão e de seguida a adoração.
Sim, «Adorar o Deus de Jesus Cristo, que se fez pão repartido por amor, é o remédio mais válido e radical contra as idolatrias de ontem e de hoje. Ajoelhar-se diante da Eucaristia é profissão de liberdade: quem se inclina a Jesus não pode e não deve prostra-se diante de nenhum poder terreno, mesmo que seja forte. Nós cristãos (...) prostramo-nos diante de um Deus que foi o primeiro a inclinar-se diante do homem, como Bom samaritano, para o socorrer e dar a vida, e ajoelhou-se diante de nós para lavar os nossos pés sujos» (Bento XVI).
Ao apresentarmos o pão e o vinho sobre o altar, dizemos: «fruto da terra e do trabalho do homem». Com efeito, no pão e no vinho continuam as palavras de Jesus: «a minha carne é verdadeira comida, o meu sangue é verdadeira bebida».
2. “Comunhão primeira”
Este ano convidamos as crianças da primeira comunhão a participar na procissão. Sei que vós estais atentos ao que é importante, garanto-vos: é muito importante voltar a nossa atenção para a Eucaristia! Em primeiro lugar é importante para as meninas e para os meninos que neste ano receberam e vão receber Jesus na Eucaristia pela primeira vez, mas é importante para todos nós, crianças, adolescentes, jovens, adultos e mais velhos que precisamos de cultivar uma profunda amizade com Jesus para que Ele se torne fonte de tudo o que pode haver de mais belo em nós.
Nós estamos atentos a Jesus Cristo na Eucaristia, participando nela, onde escutamos a sua Palavra e onde Ele transforma os dons do pão e do vinho no seu próprio Corpo e Sangue, que nós comungamos! Jesus quer que nos alimentemos d’Ele! E com que amor Ele se oferece a nós!
Mas depois da celebração podemos também dialogar e conviver com Jesus na visita e na adoração à sua Presença. Sim, Ele está presente, Ele é Presente! Aliás, o pastorinho de Fátima, S. Francisco Marto, chamava à Eucaristia o “Jesus escondido" porque ele bem sabia que Jesus estava ali, realmente presente, Pessoa viva que nos ama, ainda que os nossos olhos materiais apenas percebam o sinal do pão. Mas também sabemos que «o essencial é invisível aos olhos» (Saint-Exupéry)! E foi nas muitas horas que passou junto da Eucaristia que este menino cresceu em santidade, se tornou modelo para nós, porque a Eucaristia é fonte de vida, fonte de tudo o que podemos ter de bom! E não é só para esta vida na terra. Ele é fonte de vida eterna!
A Eucaristia é fonte porque é Jesus vivo e Ressuscitado e com Ele nós aprendemos como amar as outras pessoas, a darmos-lhes da nossa própria vida, nos gestos e palavras de ajuda e de carinho, a perdoá-las quando nos ofendem! Com Jesus aprendemos o serviço que faz os outros felizes: a Eucaristia é fonte de caridade! Em Jesus, encontramos sempre a misericórdia que nos perdoa, quando fazemos o mal e a força para recomeçar a tornarmos o mundo mais belo e a fazer o bem, bem feito! A Eucaristia é fonte de uma alegria que nos transforma em bondade e beleza!
Um salmo diz: «Da boca das crianças e meninos de peito, construíste um louvor» (Sl 8,3) Também Jesus parece gostar do louvor dos mais pequenos, de cada um de vós, pois os Evangelhos contam-nos que Ele exulta de alegria quando as crianças d’Ele se aproximam. Se Jesus gosta que nos aproximemos d’Ele, convém perceber quais serão as características deste louvor que o salmista diz que é perfeito! Como podemos definir o louvor?! Será um elogio? Será uma palavra simpática? É muito mais que isso, é uma exultação do coração. É o maravilhar-se. E eu bem sei como cada um de vós é bom a maravilhar-se. É um misto de curiosidade e de sonho de crescer, junto com uma generosidade disponível. Estou certo de que, quando cada um de vós descobrir a Eucaristia, deixará soltar essa exultação do coração!
O Papa Francisco recorda: «A liturgia não é “o campo self-service”, mas a epifania da comunhão eclesial. Por isso, nas orações e nos gestos ressoa o “nós” e não o “eu”; a comunidade real, não o sujeito ideal». A celebração litúrgica liberta-nos do nosso individualismo e educa-nos a estar juntos, a compartilhar, a rezar juntos. O individualismo sufoca o sentido da comunidade.
“Cristo vive e quer-te vivo!” Também eu quero muito que as crianças, os adolescentes, os jovens, os adultos e os mais velhos da Arquidiocese de Braga, descubram que uma verdadeira vida precisa de ter Jesus como fonte. Só assim podemos ter uma Arquidiocese cheia de Vida.
3. V Congresso Eucarístico Nacional – Braga 2024
De 31 de maio a 2 de junho de 2024 iremos comemorar o centenário do primeiro Congresso eucarístico nacional realizado aqui na cidade de Braga. Até agora, celebraram-se 4 congressos eucarísticos nacionais: 3 em Braga (2 a 6 de julho de 1924 – A paz de Cristo em Portugal pelo reinado do Coração Eucarístico de Jesus; 7 a 13 de junho de 1974 “50 anos – a Eucaristia fonte de vida”; 3 a 6 de junho de 1999 “75 anos – Jesus Cristo, único Salvador do mundo, Pão para a vida nova”) e um em Fátima (10 a 12 de junho de 2016 – Viver a Eucaristia, fonte de misericórdia).
No domingo passado, ao peregrinarmos juntos com a Mãe da Igreja, demo-nos conta que o encerramento do VCEN’24, coincidirá com a peregrinação anual àquele monte com a Mulher eucarística, Senhora do Sameiro.
Em Braga, no primeiro Congresso Eucarístico Nacional, de 2 a 6 de julho de 1924, cruzaram-se muitas vidas de santidade, cujos processos de canonização estão em curso: Beata Alexandrina Costa; Frei Bernardo de Vasconcelos, OSB; Padre Abílio Correia; Alzira Sobrinho (Irmã São João, SFRJS); D. Manuel Mendes da Conceição Santos e D. João de Oliveira Matos.
Podemos mencionar alguns bracarenses santos e beatos: os santos arcebispos: Pedro, Martinho, Frutuoso, Torcato, Geraldo e Bartolomeu; os beatos: Brás Ribeiro, João Fernandes, Inácio de Azevedo, Mário Félix e Miguel de Carvalho; e ainda: Frei João d’Ascensão, o fradinho do Carmo e D. António Barroso;
Estes homens e mulheres não tiveram medo da profundidade eucarística, como no-lo recorda o Dicastério da Comunicação da Santa Sé: «Não se pode compartilhar uma refeição através de uma tela. Todos os nossos sentidos participam, quando compartilhamos uma refeição: paladar e olfato, olhares que contemplam o rosto dos comensais, ouvindo as conversas à mesa. Compartilhar uma refeição à mesa é nossa primeira educação sobre a atenção aos outros, uma maneira de promover relacionamentos entre membros da família, vizinhos, amigos e colegas. Do mesmo modo, no altar participamos com a pessoa inteira: mente, espírito e corpo estão envolvidos. A liturgia é uma experiência sensorial; entramos no mistério eucarístico através das portas dos sentidos, que são despertados e alimentados na sua necessidade de beleza, significado, harmonia, visão, interação e emoção. Acima de tudo, a Eucaristia não é algo a que podemos simplesmente “assistir”; é algo que realmente nos nutre».
A Eucaristia, dom da caridade e mistério de vida eterna santifica a Igreja, ou melhor, “a Eucaristia faz a Igreja e a Igreja faz a Eucaristia”. O coração pulsante da missão é a oração pessoal e comunitária, sobretudo a Liturgia da Igreja. O coração da oração é a Eucaristia, o sacramento dos sacramentos.
+ José Manuel Cordeiro
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