Arquidiocese de Braga -
20 dezembro 2021
Notre Dame não será a Disneylândia
DACS com Vida Nueva Digital
Arquidiocese de Paris recebe aprovação do Estado para a renovação do interior do templo, dois anos e meio após o incêndio.
As críticas ao projecto litúrgico e ao restauro do interior da Catedral de Notre Dame equiparam-no a um “novo incêndio”, mas em grande parte não têm razão de ser. A Arquidiocese de Paris faz o que a Igreja sempre fez: adaptar-se aos novos tempos e às novas linguagens.
Nem será a Disneylândia – como tem sido acusado – nem a arte contemporânea incluída será “discordante”.
O já arcebispo emérito de Paris, Michel Aupetit, expressa-o claramente: o projecto pretende levar a “catedral ao século XXI, preservando a sua própria identidade no espírito da tradição cristã”.
De facto, no dia 9 de Dezembro, a Comissão Nacional de Património e Arquitectura aprovou a reforma interior apresentada pela Arquidiocese de Paris. Conforme anunciado no Le Monde pelo presidente da entidade, o senador Albéric de Montgolfier, os vinte e quatro especialistas “validaram o projecto”.
“Em particular, estão de acordo quanto ao eixo litúrgico central e aos móveis do baptistério, altar e tabernáculo, que deveriam ser desenhados pelo mesmo criador”, revelou.
Por outro lado, rejeitaram ou levantaram reservas sobre outros aspectos, como bancos com rodas equipados com luzes – querem ver um protótipo primeiro – em vez de cadeiras de palha. Também querem mais detalhes sobre o acesso à cripta.
A Comissão manifestou a sua oposição à proposta de alteração do lugar das estátuas de santos que Eugène Viollet-le-Duc, o arquitecto responsável pelo restauro da catedral de 1844 a 1879, colocou entre os altares das capelas.
Montgolfier descarta a hipótese de serem instalados “ao longo dos grandes pilares da catedral", como pretendia a arquidiocese parisiense.
Transformações
A outra rejeição tem que ver com a transformação do coro em espaço de oração, ao redor da relíquia da Coroa de Espinhos e próximo ao tabernáculo.
“Tememos que o solo, que remonta ao século XVIII, seja prejudicado com a passagem de fiéis e turistas”, assinalou o senador no Le Monde.
Foi admitida a inclusão de obras de artistas contemporâneos em Notre Dame, “mas ainda não se decidiu o nome” dos mesmos.
O próprio Le Monde cita pintores de renome, como Anselm Kiefer ou Louise Bourgeois – já falecida –, assim como Ernest Pignon-Ernest, um dos pioneiros da arte urbana em França, entre os propostos, para dialogar nas capelas laterais com os três irmãos Le Nain ou Charles Le Brun, referências do século XVII presentes na catedral de Paris.
Em qualquer caso, insistiu que a Arquidiocese de Paris “não removerá quaisquer objectos ou pinturas que se encontravam na catedral antes do incêndio”, em resposta às virulentas – e injustificadas – críticas que recebeu o projecto litúrgico e o restauro do interior do templo, sob a supervisão de Gilles Drouin, director do Instituto Superior de Liturgia.
“Não envolve nenhuma transformação radical”, responde Drouin, que lembra que a catedral “sempre esteve aberta à arte da época contemporânea, como a grande cruz dourada do escultor Marc Couturier, instalada pelo Cardeal Lustiger em 1994”.
Artigo de Juan Carlos Rodríguez , publicado em Vida Nueva Digital a 18 de Dezembro de 2021.
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