Arquidiocese de Braga -
26 abril 2025
Alexandrina, mulher de esperança

Homilia do Arcebispo, D. José Cordeiro, a 25 de abril de 2025
1. Aleluia, o nosso cântico
Continuamos a viver a oitava da Páscoa, e por isso continua a ressoar no nosso coração o anúncio jubiloso da noite da santa Vigília: o Senhor ressuscitou, aleluia! E ainda que a notícia da morte do Papa Francisco nos tenha surpreendido, ela não diminui a alegria pascal. Como disse São João Paulo II, também falecido na oitava da Páscoa: «Somos o povo da Páscoa, e Aleluia é o nosso cântico». Assim, acreditamos que com o Papa Francisco acontece páscoa, passagem desta vida para a vida de Deus.
Jesus Ressuscitou e apareceu aos discípulos e, como nos diz o texto do evangelho de hoje, esta era já a terceira vez que Cristo se lhes manifestava. Contudo, para os discípulos o apelo para voltar ao passado era forte. Perante o extraordinário evento da ressurreição, que eles inicialmente não compreenderam, regressam àquilo que lhes dava segurança: a profissão antiga, a pesca. Podemos ver o contraste entre o evangelho e a primeira leitura: no evangelho vemos os discípulos fechados sobre si mesmos, com medo. Na primeira leitura vemos Pedro e João a falar, sem qualquer receio, perante os chefes do povo judeu dizendo: «É em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, que vós crucificastes e Deus ressuscitou dos mortos, é por Ele que este homem se encontra perfeitamente curado na vossa presença».
2. Esperança e coragem
Reconhecer Cristo Ressuscitado transforma a vida, dá-nos esperança e coragem. Foi isso que aconteceu com Pedro, com João e com tantos homens e mulheres ao longo dos séculos. Foi isso o que aconteceu com Alexandrina, que nas vicissitudes da vida, nomeadamente na doença, foi capaz de ver com os olhos da fé, colocando-se ao serviço d’Aquele que nos salva. E Cristo salva vivendo connosco o que a vida nos dá: alegrias e tristezas, esperanças e sofrimentos. A ressurreição de Jesus não é a promessa de uma vida fácil e sem problemas; é, sim, a promessa de que em todos os momentos da vida, quer bons quer maus, temos o Senhor a caminhar ao nosso lado.
As aparições do ressuscitado aos discípulos são uma catequese para nós: elas mostram-nos que é no quotidiano da vida que devemos procurar o Mestre. E Cristo está connosco quando nos reunimos e celebramos a Eucaristia. Cristo está onde está cada ser humano que pratica o bem; Cristo está nos humildes, nos carenciados, nos simples, nos que vivem para amar e se deixam amar por Deus.
3. Mulher transformada em “eucaristia”
É por isso que aqui nos reunimos hoje: Alexandrina foi mulher simples, humilde, disposta a encontrar Cristo, e por isso nela podemos ver alguém que se deixou transformar pela ressurreição de Cristo.
O mesmo convite é feito a cada um de nós: anunciar, sem medo, Cristo ressuscitado nos gestos e palavras do quotidiano da vida, levando Jesus a todos e todos a Jesus.
A celebração da Eucaristia prolonga-se na vida e na adoração eucarística com o culto eucarístico fora da Missa.
Da celebração à adoração e à caridade gratuita na vida é o percurso da nossa fé, como costumava dizer um jovem que morreu há cem anos, com 24 anos, o Beato Pier Giorgio Frassati (1901-1925): «Jesus visita-me todas as manhãs na comunhão e eu retribuo do mísero modo que posso, visitando os pobres».
O Papa Francisco na oração de Vésperas no Mosteiro dos Jerónimos, Lisboa 2 de agosto de 2023 indicou vivamente: «Mas, para nos fiarmos dia a dia no Senhor e na sua Palavra, não bastam palavras, é necessária muita oração. Gostaria de fazer aqui uma pergunta, mas cada qual responde no seu íntimo: Como rezo eu? Como um papagaio, blá, blá, blá, ou adormentando-me diante do Sacrário, porque não sei como falar com o Senhor? Rezo? Como rezo? Apenas na adoração, só diante do Senhor, é que recuperamos o gosto e a paixão pela evangelização. E, curiosamente, perdemos a oração de adoração; e todos, sacerdotes, bispos, consagradas, consagrados têm que a recuperar: recuperar aquele permanecer em silêncio diante do Senhor».
E numa carta que me dirigiu no dia 16 de abril de 2021, a propósito da vigésima quinta peregrinação nacional dos acólitos a Fátima, o Papa Francisco escreveu: «... Para isso põe todo o entusiasmo da tua idade no encontro com Jesus escondido sob o véu eucarístico. Oferece a Jesus as tuas mãos, os teus pensamentos e o teu tempo, e Ele não deixará de te recompensar, concedendo-te a alegria verdadeira e fazendo-te sentir onde se encontra a felicidade mais completa. Tens o exemplo dos Santos que encontraram na Eucaristia o alimento para o seu caminho de perfeição, senão mesmo da sua vida corporal: nunca ouviste falar da Beata Alexandrina de Balazar? Catorze anos alimentando-se apenas da Comunhão... Quantas vezes eles se comoveram até às lágrimas na experiência de tão grande mistério: que o diga o Santo Cura d’Ars. Viveram horas indescritíveis de alegria diante do Santíssimo Sacramento, como o pastorinho de Fátima, São Francisco Marto, que escolheste para modelo e protetor celeste».
A beata Alexandrina interceda pelo nosso querido Papa Francisco na hospitalidade do céu. A nós, que peregrinamos juntos na esperança, o Senhor nos conceda a coragem e a confiança no caminho de Páscoa.
+ José Manuel Cordeiro
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