Arquidiocese de Braga -

11 julho 2025

Leão XIV: a IA deve andar de mãos dadas com o respeito dos valores humanos e sociais

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Vatican News

O Pontífice sublinha que as novas tecnologias não podem substituir “o discernimento moral” e a riqueza das relações autenticamente humanas

Foi enviada, esta quinta-feira, dia 10 de julho, a mensagem do Papa Leão XIV para a Cimeira da Inteligência Artificial para o Bem 2025, agendada de 7 a 11 de julho, em Genebra, organizada pela União Internacional de Telecomunicações (UIT), em parceria com outras agências da ONU e coorganizada pelo Governo suíço.

O texto é assinado pelo secretário de Estado, cardeal Pietro Parolin, que em nome do Pontífice expressa as suas cordiais saudações a todos os participantes.

A mensagem recorda que esta cimeira coincide com o 160º aniversário de fundação da UIT, e o Papa felicita "todos os membros e funcionários pelo seu trabalho e esforços constantes para promover a cooperação global, a fim de levar os benefícios das tecnologias da comunicação a todas as pessoas no mundo inteiro".

Conectar a família

Segundo o Papa, "ligar a família humana através do telégrafo, da rádio, do telefone, das comunicações digitais e espaciais apresenta desafios, especialmente nas zonas rurais e de baixos rendimentos, onde aproximadamente 2,6 mil milhões de pessoas ainda não têm acesso às tecnologias de comunicação".

"A humanidade está numa encruzilhada, enfrentando o imenso potencial gerado pela revolução digital impulsionada pela Inteligência Artificial. O impacto desta revolução é de longo alcance, transformando áreas como a educação, o trabalho, a arte, a saúde, a governação, as forças armadas e a comunicação", refere o texto.

Esta transformação histórica exige responsabilidade e discernimento para garantir que a IA é desenvolvida e utilizada para o bem comum, construindo pontes de diálogo e promovendo a fraternidade, e assegurando que serve os interesses da humanidade como um todo.

De acordo com o Papa, "à medida em que a IA se torna capaz de se adaptar autonomamente a muitas situações, fazendo escolhas algorítmicas puramente técnicas, é crucial considerar as suas implicações antropológicas e éticas, os valores em jogo e os deveres e quadros regulamentares necessários para defender esses valores".

"Embora a IA possa simular aspetos do raciocínio humano e realizar tarefas específicas com uma rapidez e eficiência incríveis, não consegue replicar o discernimento moral ou a capacidade de formar relações genuínas", sublinha.

Portanto, o desenvolvimento de tais avanços tecnológicos, deve andar de mãos dadas com o respeito pelos valores humanos e sociais, a capacidade de julgar com consciência limpa e o crescimento da responsabilidade humana. Não é por acaso que esta era de profunda inovação levou muitos a refletir sobre o que significa ser humano e sobre o papel da humanidade no mundo.

Promover uma ordem mais humana

"Embora a responsabilidade pela utilização ética dos sistemas de IA comece por quem os desenvolve, gere e supervisiona, quem os utiliza também partilha essa responsabilidade", recorda o texto, afirmando que "a IA exige, por isso, uma gestão ética adequada e quadros regulamentares centrados na pessoa humana, que vão para além dos meros critérios de utilidade ou eficiência". "Em última análise, nunca devemos perder de vista o objetivo comum de contribuir para esta «tranquillitas ordinis – a tranquilidade da ordem», como lhe chamou Santo Agostinho (De Civitate Dei), e promover uma ordem mais humana das relações sociais e sociedades pacíficas e justas ao serviço do desenvolvimento humano integral e do bem da família humana", refere o texto.

A mensagem conclui-se, encorajando a "procurar a clareza ética e a estabelecer uma governação local e global coordenada da IA, baseada no reconhecimento comum da dignidade inerente e das liberdades fundamentais da pessoa humana. O Santo Padre assegura de bom grado as suas orações pelos esforços" da Cimeira "em benefício do bem comum".