Arquidiocese de Braga -

8 setembro 2025

Opinião

Três jovens de Deus: Frassati, Acutis e Bernardo de Vasconcelos

Mons. Mário Rui de Oliveira

Hoje, dia 7 de Setembro de 2025, o Santo Padre Leão XIV, em Roma, elevou à glória dos altares dois jovens luminosos: Pier Giorgio Frassati e Carlo Acutis. Ambos recordam que a santidade não é um privilégio reservado a poucos, mas um caminho possível, ardente e belo, que passa pelo coração da juventude. Ao lado deles, a Igreja continua a escutar a voz e o testemunho do venerável Frei Bernardo de Vasconcelos, monge beneditino português, cuja vida aguarda ainda o selo de um milagre para se tornar oficialmente modelo e intercessor universal.

O que une estes três jovens — um estudante apaixonado pela montanha e pelos pobres, um génio da informática que fez da internet um púlpito, e um monge recolhido no silêncio do mosteiro e da cama do hospital ou de casa — é a força heróica do amor de Cristo. São três rostos diversos de uma mesma chama: a chama da Eucaristia.

1. A Eucaristia: centro e fonte de santidade

Frassati nutria-se da missa diária, encontrava na comunhão a energia para carregar os pobres às costas. Carlo Acutis chamava a Eucaristia a “autoestrada para o céu” e deixou-nos como herança um itinerário de milagres eucarísticos que hoje inspira o mundo inteiro. Frei Bernardo de Vasconcelos, poeta místico, descobriu no Corpo de Cristo o centro absoluto da sua vida e espiritualidade. Escreveu uma conferência belíssima sobre o ser cristão e o amor à Eucaristia, onde exprimia já a sua decisão de transformar a vida numa oferenda. Não podendo ser sacerdote por causa da doença, fez-se ele próprio hóstia viva, ostia em sangue, configurando-se radicalmente ao Senhor que se dá no altar.

2. O amor aos pobres: Cristo encontrado nos irmãos

Pier Giorgio Frassati consumiu os seus dias a visitar os doentes, a socorrer famílias esquecidas, a dar não só o que tinha mas o que era. Carlo, com menos tempo e saúde, mas com igual intensidade, dedicou-se a ajudar colegas, a defender os mais frágeis e a usar os seus dons digitais para aproximar outros de Deus. Frei Bernardo, ainda estudante em Coimbra, antes de entrar nos beneditinos, foi membro ativo das Conferências Vicentinas, aprendendo a reconhecer o rosto de Cristo nos mais pobres. No silêncio do mosteiro ou dos hospitais, já marcado pela doença, viveu a caridade como dom de si mesmo: em cartas, poemas e gestos escondidos, oferecia-se aos irmãos e a todos os que o visitavam, com uma serenidade que era já um anúncio do Reino.

3. A doença como comunhão com a Cruz

A juventude deles não foi poupada ao sofrimento. Pier Giorgio morreu aos 24 anos de poliomielite fulminante, oferecendo a sua dor com serenidade. Carlo Acutis, aos 15 anos, enfrentou a leucemia com uma maturidade pascal, dizendo: “Morro feliz, porque não gastei nem um minuto da minha vida sem agradar a Deus.” Frei Bernardo de Vasconcelos foi tocado muito cedo por uma tuberculose óssea (o mal de Pott), que o confinou ao leito e lhe roubou o sacerdócio sonhado. Mas a sua cama tornou-se a sua montanha das bem-aventuranças, e o seu sofrimento atroz foi a sua verdadeira cátedra. Das suas dores brotaram cartas e poesias místicas que testemunham uma vida eucarística levada até ao limite. No próprio dia da sua morte, em 1932, foi publicado o seu livro de poemas Cântico de Amor: como se a sua última respiração fosse já cântico e oferenda.

Uma santidade jovem e luminosa

Estes três jovens — Frassati, Acutis e Bernardo — são ícones de uma santidade alegre, eucarística, pobre e crucificada. Eles lembram-nos que não é preciso viver muito para viver plenamente; basta viver em Cristo, deixar-se moldar por Ele até ao extremo. Dois já resplandecem na glória dos altares, um aguarda ainda a confirmação de um milagre. Mas todos os três já são, para nós, estrelas que brilham no firmamento da Igreja e que nos desafiam a transformar cada dia numa oferta, cada dor numa paixão redentora, cada encontro numa comunhão de amor.

 

Padre Mário Rui de Oliveira

Postulador da Causa de Beatificação e Canonização do Venerável Frei Bernardo de Vasconcelos