Arquidiocese de Braga -

17 dezembro 2025

Arder para iluminar

Fotografia Câmara da Póvoa de Lanhoso

Homilia de D. José Cordeiro, na Celebração da Luz da Paz de Belém, 16 de dezembro de 2025

1. Encontrados por um tesouro

Na parábola escutada, não se relata um homem que encontra um tesouro num campo; pelo contrário, há um homem que é encontrado por um tesouro e, ao ser encontrado pelo tesouro, vende tudo o que possuía para comprar aquele campo. Na verdade, o que transforma aquele homem não é o tesouro em si, mas a decisão que toma, atraído por aquele tesouro, que lhe exige uma transformação do conhecido passado para o novo e inesperado futuro. 

De facto, para nos deixarmos encontrar pelo tesouro, é necessário deixarmo-nos deslumbrar e fascinar, porque aquilo pelo qual nos encantamos mobiliza a nossa imaginação e marcará, decididamente, a nossa vida. Quando nos fechamos às surpresas da vida, ou quando deixamos de esperar algo precioso, torna-se impossível sermos encontrados por tesouros. Hoje, sabemos que, mesmo sendo este pálido ponto azul, como fio de ouro no cascalho da nossa vida, somos buscados, desejados e amados por Cristo, que é o nosso tesouro, a Luz que alumia os nossos passos, tantas vezes mal andados. 

2 . Arder para iluminar 

Hoje, estamos na Póvoa de Lanhoso, conhecida como a terra do ouro, onde abundam os corações de filigrana, de vários tamanhos, poisados em bancas ou ainda em vitrinas, já terminados, num belo e raro sinal de uma longínqua arte. 

É, por isso, feliz o lema escolhido – Arder para iluminar – para Celebração da Partilha da Luz da Paz de Belém. Tal como o ouro, que está misturado com pedras e impurezas e só purificado pelo fogo se tornará valioso, também nós, somente moldados pelo fogo do Amor de Deus, que nos transforma e revela o que há em nós de mais precioso, seremos capazes de iluminar a vida daqueles que se cruzam no nosso caminho.

3. Ouro em pó para reparar

Neste desígnio, recordo-me de uma apreciada técnica artesanal, surgida há cinco séculos, no Japão, com o propósito de reparar cerâmica quebrada. Aparentemente, esta técnica revela-se vulgar. Afinal, o que há de especial em reparar cerâmica quebrada? Todavia, esta habilidade une esses fragmentos da cerâmica partida com um verniz polvilhado com ouro, restaurando, de forma original, a cerâmica. Assim, ao invés de disfarçar as linhas de fissura, as peças exibem os golpes do seu passado. E, além de restauradas, agora tornam-se únicas - não haverá no mundo nenhuma peça semelhante -, e valiosas, porque reparadas com o ouro em pó. 

Nesta noite, também nas nossas mãos há ouro em pó – é a possibilidade de, iluminados por Cristo, sermos luz, reconhecendo que a vida é preciosa, amada e sinal do Seu amor e, por isso, única e valiosa. O nosso ouro em pó, que pode reparar tantas vidas quebradas e torná-las únicas e valiosas, é oportunidade de sermos Luz de Cristo nos lugares que habitamos. Portanto, sem nos perdermos nas recordações de outrora, nem asfixiar na aflição do que virá, saibamos, aqui e agora, ser luz com gestos e palavras, atentos ao presente, mas abertos ao que ainda pode ser. Este é o nosso ouro em pó. 

Deixa-te arder para iluminar o mundo!

 

+ José Manuel Cordeiro