Arquidiocese de Braga -
12 abril 2024
Como ser Igreja Sinodal em Missão?
Equipa Sinodal da Arquidiocese de Braga
Respondendo ao desafio lançado pelo Relatório de Síntese da primeira sessão da Assembleia Sinodal, a nossa Arquidiocese foi convidada a orientar a sua reflexão a partir da questão “Como ser Igreja sinodal em missão?”.
Em caminho até à próxima sessão de outubro de 2024, e à semelhança do que aconteceu na etapa de consulta relativa à Fase Continental, a Equipa Arquidiocesana de Braga procurou ampliar a escuta e o discernimento a todos, divulgando esta nova etapa do processo e convocando de forma abrangente à reflexão sobre os principais pontos do Relatório. Através do site do Sínodo em Braga, era possível enviar os contributos quer de grupos e movimentos eclesiais quer a título individual. As respostas recebidas foram residuais. Promoveu-se também esta reflexão no contexto do Conselho Pastoral Arquidiocesano, cujas participações dão maioritariamente corpo às conclusões em seguida apresentadas.
Assim, com base nos contributos recebidos, procurou-se identificar, a partir da questão orientadora, os caminhos a percorrer e os instrumentos e práticas a adotar para melhor responder à missão evangelizadora da Igreja a que todos somos chamados.
Caminhos a percorrer
- A comunidade como centro:
A Igreja é antes de tudo um povo que caminha junto, formando uma comunidade onde todos são iguais e servem mutuamente. A sinodalidade é expressa pelo caminhar coletivo, sem preconceitos ou aceção de pessoas, numa peregrinação conjunta de escuta e ajuda mútua, incentivando a participação ativa de todos.
Uma comunidade em que todos se relacionam e tratam de forma saudável e fraterna, com autêntica amizade e comunhão, privilegiando o diálogo e a mútua compreensão.
Uma comunidade que reza e celebra junta, que cuida da vida e caminho espiritual de cada um dos seus membros.
- Tempo e paciência:
A sinodalidade não é um processo instantâneo, mas exige disponibilidade e tempo. E o reconhecimento de que nem todos caminhamos ao mesmo ritmo. É necessária paciência ao longo do processo, respeitando e acompanhando os diferentes ritmos e reconhecendo a importância deste tempo como uma dádiva na Igreja. Estar, escutar e acolher, sem a urgência de obter de forma imediata todas as respostas e soluções, mas cultivando a abertura ao Espírito e o discernimento. Antes de criar ou mudar estruturas e processos, é necessária uma conversão pessoal e comunitária.
- A relação paróquia/diocese:
Ser Igreja deve ser sinónimo de “ser família”, onde se cultiva o sentido de pertença e confiança. É importante que as comunidades paroquiais não vivam isoladas ou fechadas, mas reconheçam e façam caminho com a sua diocese. Há o desejo de uma maior ligação e melhor comunicação e sintonia e um apelo a que as estruturas hierárquicas da Igreja assumam uma cultura de transparência e prestação de contas para com os fiéis.
- O papel do clero e dos leigos (corresponsabilidade):
A necessidade de repensar o papel do clero e a centralidade do pároco na vida das comunidades, promovendo um modelo de Igreja que esteja verdadeiramente ao serviço de todos. A responsabilidade da missão deve ser partilhada entre clero e leigos, reforçando o sentido de pertença, de comunhão e missão. É preciso valorizar o compromisso laical e reconhecer a diversidade de sensibilidades e carismas na comunidade, confiando tarefas e ministérios e repensando o dinamismo da tomada de decisões, nas paróquias e na diocese (“desclericalização das mentes”). Nesse sentido, é importante valorizar o papel das mulheres na vida eclesial e assegurar, precisamente, que possam participar nos processos de decisão e assumir papéis de liderança na pastoral e nos ministérios (sugestão de pensar ministérios específicos ligados às características femininas e não réplicas dos ministérios pensados no masculino).
Ainda neste ponto, é urgente uma atenção e cuidado pastoral para com os sacerdotes, que se encontram muitas vezes sobrecarregados com questões ao nível da gestão de instituições e recursos – que não são prioritárias na sua missão como pastores –, e também com os leigos, que muitas vezes se desgastam no serviço pastoral, descurando a sua vida espiritual, familiar e profissional.
- Acolher e servir:
A missão da Igreja começa no acolhimento e plena integração na vida comunitária de “todos, todos, todos” e traduz-se também no serviço despojado a todos. Especial atenção às novas realidades familiares, aos jovens, aos grupos mais vulneráveis, às pessoas em situação de pobreza ou migração.
- Discernimento sobre questões doutrinais/pastorais:
É importante continuar a discernir sobre alguns temas que ainda causam controvérsia, desacordo ou dúvida no seio da doutrina ou da pastoral da Igreja. À luz da Palavra, e de forma partilhada e fraterna, promover o diálogo sobre a moral sexual, a ordenação das mulheres, o celibato, etc.
Instrumentos/Práticas a adotar
- Fomentar as relações humanas no âmbito da vivência da fé, definindo momentos específicos para a oração comunitária (além da celebração da Eucaristia), a partilha e o convívio nas comunidades.
- Maior divulgação de informação: as informações e a vida da diocese devem ser amplamente partilhadas nas paróquias para envolver mais pessoas, principalmente as que se encontram fora de centros urbanos e nas periferias da diocese. O mundo digital pode ser uma ferramenta muito útil para esse fim, no entanto, é necessário também apurar e mobilizar os canais de comunicação e estruturas eclesiais intermédios (paróquia/arciprestado).
- Formação para a corresponsabilidade: é crucial passar à prática, para que leigos e clero sejam formados para serem corresponsáveis na missão. Repensar/ reformular a formação nos seminários, a formação contínua do clero e a formação dos leigos, ao nível afetivo, espiritual, teológico, bíblico e pastoral.
- Implementar um modelo pastoral corresponsável: criação de estruturas que permitam a efetiva escuta e participação comunitária, sugerindo-se a figura de um "coordenador pastoral" como elo entre o pároco e a comunidade.
- Reuniões inclusivas e atividades que promovam a integração e o fortalecimento espiritual.
- Preparar para a realidade das Unidades Pastorais, formando leigos para diferentes ministérios.
- Instituição de um ministério específico para a escuta e o acompanhamento (nomeadamente também o acompanhamento espiritual), no âmbito das comunidades e criação de estruturas próprias de atendimento e acompanhamento pastoral a nível diocesano.
- Instituição de forma mandatória de Conselhos Pastorais nas comunidades cristãs e nas dioceses, como órgão consultivo ou até mesmo executivo.
- Em todas as comunidades eclesiais, estabelecer parcerias e criar oportunidades concretas de serviço a pessoas em situação de vulnerabilidade e necessidade.
- Tendo em conta a opção preferencial da Igreja pelos pobres, reorientar a missão dos diáconos permanentes para o serviço a pessoas em situação de vulnerabilidade e necessidade.
- As visitas pastorais como oportunidade para cultivar a proximidade do Bispo e da diocese com as paróquias e que permitam um efetivo acompanhamento regular da vida e atividades da comunidade.
- Celebração da Eucaristia mais cuidada, organizada e participada: possibilidade de criação de equipas de liturgia nas paróquias; leigos a assumir mais funções, nomeadamente na preparação da homilia; alargar os ministérios de acólito e leitor.
Relativamente às boas práticas realizadas na Arquidiocese de Braga, partilhamos aquelas que consideramos significativas para fazer crescer um dinamismo sinodal missionário:
· Realização de Assembleias Sinodais e Arquidiocesanas
Depois da primeira experiência de uma assembleia sinodal de âmbito arquidiocesano, realizada em junho de 2022, para trabalhar e finalizar o documento relativo à síntese arquidiocesana respeitante à etapa diocesana do processo sinodal em curso, e dada a avaliação extremamente positiva da mesma, a realização de assembleias sinodais tem vindo a manter-se na Arquidiocese com uma frequência anual. Assim, depois de uma outra assembleia desta natureza realizada em 2023, está já marcada uma outra para o presente ano, procurando potenciar-se a riqueza de momentos como estes, em que todos podem pronunciar-se sobre as dificuldades, dores, alegrias, esperanças e anseios da vida da Arquidiocese nos seus mais diferentes âmbitos.
De igual modo, têm vindo a acontecer, também com uma frequência anual, assembleias arquidiocesanas, sendo estas marcadas por uma natureza mais festiva, para assinalar o início de cada ano pastoral e litúrgico. Embora não com o intuito específico de escutar a todos e promover um tempo de diálogo alargado a todos os presentes, estes encontros obedecem a uma matriz vincadamente sinodal, constituindo uma bela e importante expressão da comunhão da Igreja arquidiocesana, sendo todos convidados a participar e procurando, de igual modo, (re)enviar todos, com renovado entusiasmo, para a missão do anúncio do Evangelho.
· Conselho Pastoral Arquidiocesano (modelo de reunião e promoção da escuta)
O Conselho Pastoral Arquidiocesano de Braga, composto por cerca de 50 elementos, entre sacerdotes e leigos, com elementos provenientes dos diferentes setores de pastoral e também em representação dos diferentes Arciprestados que compõem a Arquidiocese, reúne cerca de 3 vezes no decorrer de cada ano pastoral. Estes encontros têm vindo a sofrer alguns ajustes, com o intuito de os tornar cada vez mais sinodais, permitindo uma participação mais ativa de todos os conselheiros.
Destarte, a última reunião, decorrida no passado mês de fevereiro, obedeceu a um novo formato, procurando-se, ao longo do encontro, refletir, precisamente, sobre a pergunta que nos foi colocada – Como ser Igreja Sinodal em Missão?. Como tal, o encontro não se reduziu a uma manhã de sábado, como antes acontecia, tendo-se estendido até meio da tarde. Os conselheiros foram divididos em pequenos grupos de trabalho e reflexão, sendo que dentro de cada grupo foi adotado o ‘método das rondas’, proposto na fase da auscultação da etapa diocesana do Sínodo. Deste modo, todos, sem exceção, puderam usar da palavra, deixando o seu precioso contributo. Por outro lado, todos se sentiram escutados, sentindo também que a sua partilha foi acolhida pelo grupo.
Esta reunião do Conselho Pastoral Arquidiocesano, tendo decorrido nestes diferentes moldes, mereceu o melhor feedback por parte de todos os conselheiros, na medida em que permitiu uma riqueza maior, não antes tão largamente explorada, como se continuássemos, gradualmente, a descobrir, juntos, um ‘tesouro escondido’ determinante na edificação da Igreja Sinodal a que nos propomos.
· Itinerário pastoral em aberto / em construção
No início do presente ano pastoral e litúrgico, no contexto de uma assembleia arquidiocesana realizada a 2 de dezembro de 2023, a Arquidiocese de Braga apresentou e propôs um novo itinerário pastoral. Sob o lema “Juntos no Caminho de Páscoa”, numa clara alusão ao processo sinodal em curso, não se trata de um programa fechado ou pré-definido, composto por um conjunto de objetivos e respetivas linhas de ação que cada comunidade, cada movimento e cada realidade pastoral é convidado a procurar concretizar. Em vez disso, sendo um caminho, o mesmo apresenta-se em aberto / em construção, composto por seis diferentes trilhos, definidos a partir da palavra PÁSCOA, que devem traçar a peregrinação comunitária de toda a Arquidiocese para os próximos 10 anos: Páscoa – Participação ativa e criativa; pÁscoa – Avaliação sobre a Missão; páScoa – Servir e acolher a todos; pásCoa – Conversão ao Evangelho; páscOa – Oração e vida espiritual; páscoA – Alargar os horizontes da Missão.
Deste modo, cada paróquia ou cada realidade pastoral deve encontrar o melhor modo de concretizar este caminho, não havendo um único e definido modo de o fazer. Ou seja, em cada âmbito pastoral poderão escolher-se livremente os trilhos em que se entende que se deve apostar, ou a ordem em que os mesmos devem ser considerados, atendendo às potencialidades e fragilidades intrínsecas, procurando sempre, e como o mesmo itinerário proposto defende, encontrar o melhor modo de concretizar a missão evangelizadora de “levar Jesus a todos e todos a Jesus”.
Equipa Sinodal da Arquidiocese de Braga
29 de março de 2024
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