Arquidiocese de Braga -

30 julho 2021

Papa Francisco enviou mensagem a António Guterres

Fotografia Ja Ma

dacs

Missiva teve como contexto a Pré-Cimeira dos Sistemas Alimentares das Nações Unidas, que decorreu em Roma de 26 a 28 de Julho.

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A Pré-Cimeira dos Sistemas Alimentares das Nações Unidas decorreu em Roma – apesar de ser em formato híbrido – de 26 a 28 de Julho. A iniciativa teve como objectivo definir o cenário para a cimeira global em Setembro, reunindo pessoas de todo o mundo para discutir o poder dos sistemas alimentares na concretização dos 17 Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU.

O evento decorreu sob a liderança do secretário-geral da ONU, António Guterres, a quem o Papa Francisco dirigiu uma mensagem.

Desenvolvemos novas tecnologias com as quais podemos aumentar a capacidade de frutificação do planeta, mas continuamos a explorar a natureza a ponto de esterilizá-la, expandindo não só os desertos externos, mas também os desertos espirituais internos. Produzimos comida suficiente para todos, mas muitos ficam sem o pão de cada dia. Isso «constitui um verdadeiro escândalo», um crime que viola direitos humanos básicos. Portanto, é dever de todos erradicar essa injustiça através de acções e boas práticas concretas e de políticas locais e internacionais ousadas”, alertou o Santo Padre.

Francisco explicou que, nessa perspectiva, a transformação cuidadosa e correcta dos sistemas alimentares desempenha um papel importante, devendo ser orientada para ser capaz de aumentar a resiliência ao fortalecer as economias locais, melhorar a nutrição, reduzir o desperdício de alimentos e proporcionar dietas saudáveis acessíveis. 


"Se queremos garantir o direito fundamental a um padrão de vida adequado e cumprir os nossos compromissos para atingir a meta do Fome Zero, não basta produzir alimentos. É necessária uma nova mentalidade e uma nova abordagem holística e desenhar sistemas alimentares que protejam a Terra e mantenham a dignidade da pessoa humana no centro; que garantam alimentos suficientes globalmente e promovam trabalho decente localmente; e que alimentem o mundo hoje, sem comprometer o futuro", sublinhou.

O Pontífice afirmou ainda que "é imprescindível recuperar a centralidade do sector rural, do qual depende a satisfação de tantas necessidades humanas básicas", assim como é urgente que o sector agropecuário reconquiste um papel prioritário no processo de tomada de decisões políticas e económicas.

O conhecimento dos pequenos agricultores e famílias agrícolas não deve ser ignorado, assim como lhes deve ser garantido o acesso aos serviços necessários à produção, comercialização e utilização dos recursos agrícolas.

"A família é um componente essencial dos sistemas alimentares, pois na família aprende-se a gozar do fruto da terra sem abusar dele e descobrem-se as melhores ferramentas para difundir estilos de vida que respeitem o bem pessoal e colectivo. Este reconhecimento deve ser acompanhado por políticas e iniciativas que atendam plenamente às necessidades das mulheres rurais, promovam o emprego jovem e melhorem o trabalho dos agricultores nas áreas mais pobres e remotas", pediu.

Consciente de que "interesses económicos individuais e fechados" impedem a organização de "um sistema alimentar que responda aos valores do Bem Comum, da solidariedade e da «cultura do encontro»", Francisco afirmou que a única forma de obter um sistema alimentar justo é baseá-lo na responsabilidade, justiça, paz e na unidade da família humana.

"A crise que enfrentamos actualmente é uma oportunidade única para diálogos autênticos, ousados e corajosos, abordando as raízes de nosso sistema alimentar injusto. Ao longo deste encontro, temos a responsabilidade de realizar o sonho de um mundo onde o pão, a água, os medicamentos e o trabalho fluam em abundância e cheguem primeiro aos mais necessitados. A Santa Sé e a Igreja Católica servirão este nobre propósito, oferecendo a sua contribuição, unindo forças e vontades, acções e sábias decisões", concluiu.