Arquidiocese de Braga -

11 novembro 2021

Comissão vai fazer estudo histórico sobre abusos sexuais na Igreja portuguesa

Fotografia Ecclesia

dacs

Igreja vai criar comissão independente para investigar e apurar a história dos casos de abuso sexual cometidos por membros do clero português.

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Uma comissão nacional vai fazer um “apuramento histórico” dos casos de abuso sexual cometidos por membros do clero português. O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) explicou no final dos trabalhos da Assembleia Plenária dos bispos, esta quinta-feira, que ainda não há uma janela temporal definida e que os membros desta comissão criada pela Igreja ainda não são conhecidos.

D. José Ornelas afirmou, na conferência de imprensa, que “as pessoas ainda estão a ser contactadas” e que por isso ainda não há uma comissão formada para anunciar, assim como que a Igreja “não tem medo, bem pelo contrário" de se confrontar com a verdade.

A comissão tem como objectivos o acompanhamento a nível civil e canónico” das vítimas e “o estudo em ordem ao apuramento histórico desta grave questão”, sendo ainda criado “um ponto de escuta permanente a nível nacional”.

O presidente da CEP esclareceu que esta comissão vai ter real independência” para investigar e declarou que existiu “unanimidade” entre os bispos sobre a necessidade de “fazer clareza” sobre este tema e que a vontade é que a comissão agora criada chegue ao fundo das questões”.

Durante a Assembleia Plenária foi também anunciado um site para disponibilizar de forma central os contactos das 21 comissões diocesanas de protecção de menores e adultos vulneráveis, como a comissão criada na Arquidiocese de Braga.

O responsável do organismo que agrega os bispos portugueses defendeu uma atitude de “clareza” e “honestidade” para “dar contas” da dimensão “clara desta situação”, o que é algo que interessa a todos os membros na Igreja.

D. José Ornelas rejeitou qualquer intenção de “cobrir o que quer que seja”, assumindo a intenção de respeitar a vítimas “na sua individualidade” e de evitar “soluções parciais e apressadas”.

A nova comissão nacional vai estar disponível para “acolher denúncias, acompanhá-las o mais possível, tendo uma noção mais articulada e compreensiva” da questão, tanto da actualidade como do passado.

O presidente da CEP apontou a uma busca “intransigente” de clareza para esta questão, referindo que as pessoas que virão a integrar esta comissão vão ser contactadas, que deverá, ela própria, “criar critérios” para a sua actuação.

O também bispo de Setúbal indicou que os números são importantes, mas o fundamental é “escutar as pessoas”, porque qualquer pessoa deve “encontrar justiça”. D. José Ornelas mostrou-se preparado para “tudo o que venha a acontecer”, disse já ter falado com vítimas de abusos e insistiu que “não vai haver exclusão de ninguém que queira denunciar o que quer que seja”.

A decisão da criação da comissão nacional para acompanhamento das vítimas e apuramento histórico chega dias depois de quase 250 católicos pedirem aos bispos portugueses “a iniciativa de organizar uma investigação independente sobre os crimes de abuso sexual” nos últimos 50 anos.

Na carta, o grupo pede que a comissão responsável por essa investigação seja composta “exclusivamente por leigos católicos, por não crentes, por profissionais das ciências sociais e da justiça, cuja autonomia e independência sejam absolutamente inquestionáveis”, admitindo, no entanto, a assessoria de “algum elemento do clero”.